Estou novamente aqui, sentada nessa cama espinhosa com um barulho de solidão. Estou novamente atrelada e desmembrada pela desilusão. Tenho desgosto pela cor dessas paredes, pelo som do ventilador, tenho angústia por esses móveis que não se movem assim como eu. São esses reflexos de mim mesma como minhas próprias projeções, que levam aos abismos infinitos que se translocam para inundações. Intensa mais do que a morte, eu tenho pressa de viver, mas a vida às vezes é silício, é faca de dois gumes, é faltar de querer. Não posso querer o que quero, as raízes são insistentes, pecaminosas, conturbadas.Tenho esses vícios, essas atitudes, esses desvios, esses gritos. É um vai e volta nesse turbilhão de pensamentos e sensações. Esse é o preço por fugir da ignorância? Estou perdida nesse paraíso que os homens chamam de céu, onde moram as monotonias e as crises existenciais. Essa batalha dos infernais corruptos, que corrompem a moral. Essa batalha minha, de ser aquilo que sou com toda a vergonha e brutalidade de ser. Porque ser de verdade meu bem, é porrada certa. Não estão perdidos aqueles que bajulam, estou perdida eu, aquela que é sem medo de ser. Mas tenho medo sim, porque o mundo me pede para não ser, ele diz que se eu for, a abandonada serei eu. Todo dia um tiro. BANG, BANG, BANG! Por que tão marginal? Tão limítrofe? Se o desejo está depois da linha. Minha alma não sabe lidar com os limites, com as regras nem com os falsos. Eu sou nascida da selvageria, sou loba, sou urso, sou onça, sou fera. A verdade é que eu conheço minhas tentações por isso conheço minhas feiuras. É porrada conhecer suas feiuras, mas é mais digno. Manter o controle, respirar, tolerar. Essas pílulas não me fazem efeito. Eu tenho as dores mais profundas, mais críticas e devoradoras. Essa percepção de existência, faz parte de toda essa genialidade que minha mente produz todos os dias. Essas percepções que eu tenho dos átomos e das energias, da metafísica e das práticas quânticas. Esses meus mergulhos no hiperespaço, essas minhas queimaduras pela volta ao sol e essas feridas pela caminhada nos anéis de saturno. Eu tenho pressa de viver, mas esse mundo não é para mim. Se ao menos eu tivesse asas físicas para abstrair a minha loucura. Sinto tanto essa sinestesia, esse todo. Eu não sei viver essas metades, essas pausas. Eu pulo logo no precipício e me viro para construir minhas salvações. Esses choros que eu sempre chorei, são minhas poesias sufocadas, meu mártir. Aceitei que sou apaixonada pelos meus agressores, eles me despertam e rugem, são uma distração do meu eu . As cartas sem endereço, os monólogos, as partidas, as injustiças, as divindades. Essa minha Cleópatra decadente, reflexiva e dismórfica. Tenho feito shows baratos no palco dos fundos, tenho entretido a plebe nos intervalos. Para descobrir que os palhaços são os que mais choram e que a alma é coisa para depois das nove horas. É tudo culpa dessa morte que insiste em viver.
Ísis Caldeira Prates
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