quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Combustão

Coloquei fogo nos móveis velhos da minha casa
Deixei queimar
Fiquei olhando
Era quase Jimi Hendrix e sua guitarra
Eu estava tão louca quanto
Tão drogada quanto
Tão vaziamente cheia quanto
A fumaça da combustão me intoxicava
O calor era intenso
Mas não tão intenso quanto o meu
A fumaça não era tão tóxica quanto meu cheiro
Minha alma é selvagem
Incontrolável
As pessoas deveriam ficar mais tempo
Para terem tudo de mim
Para se perderem em meus caminhos curvilíneos
Nos meus beijos fogosos e desafiadores
Nos meus olhares profundos e nos meus sorrisos sádicos
Deveriam querer minha loucura
Confesso tudo
Sou louca e ponto e vírgula
Mas eles nunca têm coragem
Acabam com medo de mim
O problema não é meu
Sou cigana prolixa
Densa nos prazeres da carne
E alforriada nas percepções da mente
Sou pecadora
Dei-me esse rótulo
Já que nesse mundo imundo os pecadores se salvam
Se ajudam
Se ligam
Eu tenho uma Deusa interior
Que se mostra nas noites vazias
Que se mostra nos meles 
Que rouba sua pureza
E invade o céu.

Ísis Caldeira Prates


quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Acorda pra poesia menina!

Tô viva! Tô viva!
Estou sentindo
É um nó na garganta e no peito
Mas tô sentindo
Se não sentir eu fico demente
Fico morta igual zumbi
Me acorda Isabela!
Sua amiga tem alma nos olhos
Outra vez.

        
         Ísis Caldeira Prates

Mais uma vez

Versos demoníacos, traiçoeiros
Me trazem de novo ao papel
Ao teu papel
Ao livro que eu escondi debaixo do colchão
Debaixo do coração
No meu corpo inteiro
Teu cheiro impregnado
Faz meu corpo tremer
Gemer por dentro
Dá voz ao meu coração vagabundo
Ah coração vagabundo
Caçador de migalhas
Tens tanto a aprender 
De tão apaixonado termina melancólico
Percebi que ainda sinto sua respiração
Ainda me lembro dos dias de amor
E das batidas do seu coração em teu peito nu
Como eu me doei para suas vontades
Como eu sonhei acordada
Ainda sinto a maciez de seus lábios necessitados
E isso me enche, pensar que já fui sua necessidade
Loucura
Eu sei, fui louca demais
Mas essa sou eu
Você gostava
Seus olhos sempre me diziam "eu quero"
Um querer medroso
Cauteloso 
Você ainda lembra
Ainda lembra sim
Porque eu fecho os olhos e sinto
Me perco no espaço tempo
Para que os ventos me levem a ti
Do amor eu aprendi algumas coisas
A gente tem que amar várias vezes
Se reencontrar várias vezes
A cada vez a gente fica melhor
Se entende melhor
Não sei se ficamos maduros
Mas entendedores corajosos sim.

Ísis Caldeira Prates

sábado, 29 de novembro de 2014

Eu vou dançar com o eterno

Às vezes me passa pela cabeça
Uma vontade de ser eu mesma
De rir com os palhaços da praça
De usar minhas roupas batidas
De conhecer o mundo onde as pessoas vivem
A beleza é imponente
Chamativa, extravagante
Tem sempre holofotes 
Brilhos e capas
Eu quero os brilhos de boas lembranças
De me sentar num bar de esquina
E ver gente real
Gente que muda a gente
Gente sensível e humana
Eu quero essa gente estranha
Essa gente doida
Essa gente "old" 
E não "vintage"
Já chega de restaurantes caros
Lojas de marca
E gente vazia, interesseira e egocêntrica
Já chega de gente famosinha
De gente badalada
Eu quero poesia desconhecida
Rock alternativo
Histórias de viagens improvisadas
De vergonhas hilárias
De namorados sem um tostão furado
Mas que são gente como a gente 
Gente normal, anormal
Mas gente livre
Eles riem de nós porque não têm coragem
Se assumir é ter muita coragem
Porque até a liberdade é rotulada
E a legalidade material me assusta
Eu não preciso de um armário cheio de roupas
E preciso de um caminho cheio de sonhos
Porque a beleza do corpo acaba, envelhece
Mas a beleza de uma alma livre ecoa pelas
danças da eternidade.


               Ísis Caldeira Prates


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Escrava alforriada

Ele disse: senta.
Sentei
Ele disse: quero ver suas pernas
Mostrei
Ele disse: é uma bela vista
Virei o rosto e me inclinei
Ele disse: está me provocando?
Dei um sorriso malicioso
Estávamos numa penumbra
Ele se levantou e disse:
Vai ser minha hoje?
Eu disse: não
E beijei.

Ísis Caldeira Prates  



quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Sou apenas um homem

Eu errei com você inúmeras vezes
Te fiz sentir sozinha 
Quando você apenas queria amor
Mas eu sempre fui estúpido 
Comigo e com as pessoas
Eu sempre fui solitário e vazio
E você sempre estava lá
Mesmo com meus ataques de fúria
Meus ataques depressivos
Minhas loucuras
Mesmo com minha inconstância
E minha indiferença
Você estava lá 
Com aqueles olhos apavorados
Eu sentia que você apenas se perguntava
Por que estava ali
Eu te fiz chorar 
Várias vezes 
Eu não me importei
Porque eu era o bastante para mim
Achava que era
Te ter foi egoísmo 
Foi crueldade
No dia que você se foi
Meus muros simplesmente caíram
Era como se eu fosse um menino perdido da mãe
Eu te procurei em todos os espaços da casa
Mas não tinha nada seu ali
Eu não deixei que tivesse
Eu preciso me confessar
Mas como? Eu nem sei amar
Eu não sei te ligar
Eu não sei te chamar
Eu não sei seu nome
Você esteve ao meu lado esse tempo todo
E eu não sei seu nome
Eu não sei dos seus sonhos
Não sei quem você é
Me desculpe
Estou chorando sozinho no quarto, no banheiro
Como você chorava por mim
Eu só queria te conhecer de verdade
E não te mostrar esse merda que eu sou
Eu te machuquei, eu sei
Mas não tanto quanto a mim agora
Eu tento pensar que não te perdi
Mas eu continuo deixando você ir
Sou um covarde!
Você nunca vai saber que eu te amo
Nem eu sabia
Mas a verdade é essa
Sinto saber que outros também vão te machucar
Preciso confessar
Sou apenas um homem.


Ísis Caldeira Prates 



sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O céu não é mais o limite

Eu estive uma bagunça por esses tempos
Dias arrastados de desordem sem fim
Mas hoje eu acordei 
Como quem acorda para ser feliz
Como quem diz sim para a vida
Eu acordei cedo e sorri para mim no espelho
Eu estava linda
O mundo estava lindo
Acordei com o amor entrando pela sola dos pés 
Fazendo cócegas para eu rir
Eu acordei tão confiante 
Quanto os pássaros que nascem
já sabendo que podem voar.

Ísis Caldeira Prates  


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Confissões de uma velha andarilha do tempo

Tempo, amado tempo, odiado tempo
A que me levaste?
Às profundezas de minhas alucinações
De minha alma convulsiva
De meus caminhos escuros
Tempo, o que me diz das loucuras?
E das gavetas sem fundo que misturavam 
minhas lembranças?
E das sessões de agonia
Da dor que sempre me moveu
Por que és um caminho sem volta?
E por que dessa saudade que meus dias passados me fazem?
Essa falta, esse vazio
Essa inconsequência
Por que não aceitou minhas inconsequências?
Ah tempo, por que que vieste ao meu encontro?
Por que de tantos espelhos ao meu redor?
Queres me mostrar minhas faces, meus pesos e minhas dívidas 
Denuncia-me para o universo
Mas por que me tirou tantas coisas?
Por que levou minhas crias?
Eu pari amor tantas vezes
Levaste meu amor
Levaste tudo de mim
Por que meu amor?
Me deu tão pouco tempo
E tanta melancolia
Sou criadora triste
Sou criadora solitária
Levaste meus ânimos
Mas quem sou eu para afrontá-lo?
Conheces minha alma 
Sou bicho pagão
Bicho dos esconderijos
Nem meus amores conseguiram me transparecer.


       Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Nas profundezas do meu oceano de prazer

Hoje eu sou uma sereia silenciosa
Nua pela casa vazia
As paredes sussurram
As paredes gemem
E os lençóis escorrem para o chão
Devassidão interna
Meu corpo ferve sozinho
A penumbra consome minha opressão
Virtuosa sereia
Que nada na cama molhada
Perversa fragilizada
Estou entregando tudo
Para a noite vazia
Evapotranspiração em meu quarto
Está chovendo em mim
Solidão do diabo
Estou sangrando por baixo
A gente sangra por baixo 
Por falta de amor.

Ísis Caldeira Prates


domingo, 21 de setembro de 2014

Corpo

Eu tenho um corpo
Não posso negá-lo
Eu tenho um corpo
Meu corpo não é ilha
É continente
Meu corpo não é falácia
É ação
Meu corpo não é medo
É coragem
Meu corpo não é censura
É inclusão
Meu corpo não é restrito
É comunhão
Meu corpo não é vazio
É imensidão
Meu corpo não é frio
É quente
Meu corpo não é dormente
É desejo
Meu corpo não é de ferro
É de imaginação
Meu corpo não é triste
É constelação
Meu corpo não é pecado
É santo, é divino
Meu corpo não é errado
É prazer pelo conhecimento
Meu corpo não é carne
É sensação
Meu corpo é zona erógena
É zona bandida
Mas também é admiração
Meu corpo é o reservatório do amor que há em mim
É instrumento de distribuição
Distribuo esse amor aos loucos
Como eu, livres
Meu corpo é livre
Meu corpo é celeste
Meu corpo é essência divina
É infinito pulsante
É aventureiro de poesias que transpiram
Que falam e olham profundo
Meu corpo precisa de outro corpo
Isso não é perdição
Meu corpo é meu
E de quem eu quiser
Eu tenho um corpo
Não posso negá-lo
Eu tenho um corpo.

                    Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Da beleza ao voo para a liberdade

Já não sou como as flores que desabrocham na primavera
Eu sou as pétalas que caem das flores
Que se libertam das flores
Que sentem a brisa e se aventuram nas correntes do vento
Eu sou a pétala que se desprendeu da beleza unânime das rosas
Que deixou de fazer parte de um coletivo fixo e estagnado
Para ser única, desbravadora das intensidades subjetivas
Conhecedora das danças rítmicas do tempo
E da selvageria dos espaços amostrais
Pétala desgarrada e ciente das perdas causadas  pelos anos
Eu escolhi a emancipação e o mergulho solitário nas profundezas de minha própria cor
Os anos me farão entrar lentamente em decomposição
Mas vale toda a pena por essa viagem, até morrer tocando o chão.


                         Ísis Caldeira Prates



domingo, 7 de setembro de 2014

Versos para um palhaço poético

                                                    Para Zack Magiezi

Ele deita em sua cama como quem deita sobre a grama
Debaixo de um céu estrelado
Os olhos divagam nas poesias internas
Nos infinitos utópicos de um menino crescido
Ele tem asas meigas que sobrevoam minhas intimidades
Ambos temos alucinações noturnas
E uma alma inconstante nas regras do ser
Tens um lindo coração aflito, porém florido e com cheiro de amanhecer
Devorador de intensidades
Algumas mordidas, por que não?
Gosto do seu nariz de palhaço
E como mágico
Tens as cartas na manga para me prender.


Ísis Caldeira Prates 



Amores imaginários

Eu te beijo sozinha nas clarezas de minha mente monogâmica
Um atentado a minha dignidade
Não são só beijos 
São sussurros de minha decadência
Já virou indecência te querer
Engraçado, eu não te amo com o coração
Te amo na minha mente 
Eu tenho fantasias com você. 


Ísis Caldeira Prates


sábado, 16 de agosto de 2014

DÍ - Delírios de Ísis

Arrasta-me...
Afaga-me...
Degusta-me...
Incendeia-me...
Toca-me...
Peca em meu corpo são
Em minha carne encharcada
De mel pro teu ser
Suga meu universo e minhas estrelas
Me faça ver o clarão do céu
Deixa-me ser sol, já que sempre fui lua
Que tua boca não cale o som que sai da minha
Som de espasmos, som de arritmia
Encha-me em minhas profundezas desnudas
E afunda, afunda, afunda...
Você tem que me consumir até ter delírios de Ísis
Eu sou o ecstasy eternizado em sua memória
Eu sou o seu agora
Nossos segundos são eternos
Não me perca
Aqueça
Adormeça em meu espetáculo curador. 


Ísis Caldeira Prates 



domingo, 10 de agosto de 2014

A mulher mais sozinha da cidade

Eu a via passar perdida pela cidade
Com o olhar vagando dentro de si mesma
Ela era tão linda, mas de um vazio tão grande
Pensava em chamá-la pelo nome
Mas era muito pouco
Quem era ela?
Eu via uma tigresa indomável
Que acabou sendo domada pela solidão
Tinha um brilho de sol caloroso querendo sair dela
Um desabrochar tardio e prazeroso
Eu disse que ela era linda?
Estonteante, meus olhos seguiam fascinados por aquela melancólica distinta
Ela era vista por fetiches, eu a via por loucura
Ela por vezes parecia uma miragem
Eu bebia o vinho mais doce que caía na minha taça ao passar por ela
Eu não queria encontrá-la para salvar
Nunca fiz curso de salva-vidas
Queria cair naquela doida, doída, secreta, mulher!
Aliás, "mulher", característica muito vaga para ela
Um ser paralelo, sem denominações
E pensando em tudo isso, eu percebi
Ela não existia, nem eu.

                Ísis Caldeira Prates


domingo, 3 de agosto de 2014

Abra os olhos

As metáforas psicológicas são formas genuínas humanas
Em momentos solitários me vejo presa e flutuante aos fluxos marginais
Existe uma conexão virótica como um efeito dominó 
Há um peso em minhas costas, o peso do mundo
Estamos conectados e nossos corações batem no mesmo ritmo
Me sinto com os olhos embaçados por uma nuvem de cocaína
Estou presa em meus vícios
Parece uma doença degenerativa com picos de lucidez
Sinto que meu corpo pode mais do que aparenta
Tem dias que só quero ficar nua e ser tocada
Com tons de melancolia, tons de inundação
Só quero abandonar essa necessidade de pertencimento
Pertencer a nada nem ninguém
Ficar apenas no mudo, explorando meus ecos mentais
Há uma fera em meu peito que ruge para sair
Mas o silêncio é mais louvável
Censura
Desumanização 
Despoetização
A mente é como crianças correndo pelos campos
Elas parecem desorientadas
Mas tem um ar alegre, desmaterializado
Elas seguem um destino
Estão correndo em direções determinadas
Estranhamente elas sabem exatamente quem são
Sabes quem és?

Ísis Caldeira Prates  

terça-feira, 29 de julho de 2014

Flores, doces e afins

Eu sou uma mulher tão indomável quanto o caos do universo
Tão florida quanto os campos da Holanda
Tão viva quanto a natureza é
Eu sou uma metamorfose que caminha sobre terrenos distintos
Tão misteriosa quanto a lua
Tão iluminada quanto o sol
E eu te aqueço como nada pode te aquecer
Eu sou lembrança viva na memória de quem toquei
Sou aventureira dos corpos em estado de poesia
Das almas que se expõem no olhar
Das silhuetas com estações paradisíacas 
Sou aventureira daqueles que me fervem a loucura
Eu me jogo das altitudes sem medo porque tenho asas para voar
Só os livres sentem por inteiro, amam por inteiro e vivem por inteiro
Tem gente que gosta de viajar o mundo inteiro
Eu sou perdidamente apaixonada por viajar no universo das almas
Porque nem o planeta é tão imenso e multicultural quanto as pessoas
São mundos dentro de mundos, galáxias, universos!
E eles me levam, me bebem, me alimentam, me inundam, me livram da despoetização
Eu sou marcante como o primeiro amor, aquele que você ainda é bobo
E não sabe o porquê daquela mulher te envolver tanto
No fim eu sou apenas uma menina doce e alegre
Que vai te levar do fogo mais intenso a pureza mais sincera
Eu me vejo infinita e as borboletas nunca me abandonam.


Ísis Caldeira Prates 



domingo, 27 de julho de 2014

Viver o agora

Eu preciso escrever, preciso muito!
Mas a inspiração não vem
É um amontoado de sentimentos e sensações
Que não cabem em mim e meu peito transborda
Preciso viver meus dias, minha vida e minha realidade
Minha cabeça já flutuou demais
É preciso voltar ao caminho
A pausa já se acabou
De volta aos trilhos
Querendo ou não, a vida segue um fluxo
Desviar é opção, mas uma hora você tem que voltar.


           Ísis Caldeira Prates 

domingo, 20 de julho de 2014

Segundos

Segundos, e a vida passa
Como borboletas que batem as asas
E se desdobram no infinito
Segundos de asas que fazem o vento de um furacão
Lembranças de asas falhas, asas revôltas, asas insanas
A mente bate asas em fluxos descontínuos que se ligam
E os segundos absorvem as anomalias e as dependências
Os ciclos se propagam nas distâncias e tudo está ao lado
São dois lados da moeda, asas sem coreografia
Eternizam e roubam os momentos
No fim só existe você e os pássaros no céu
Não importa se são abutres ou pombas brancas
São só você e os pássaros no céu
Os segundos não mentem
O tempo não para.

               Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 8 de julho de 2014

Corpórea sinfonia

É um dia nublado de domingo
Acordei inspirado pelas suas imagens
Em minha mente, tão complexas e lúcidas
Então fecho meus olhos inalo todo o teu perfume
Que vive em minha lembrança
Pego meu violoncelo, imagino-o como teu corpo
E eu toco você
Toco suas melodias melancólicas de amor
Toco a música das suas memórias
Toco a sinfonia do teu beijo
E sinto sua boca suave a me beijar
Toco a melodia do calor que sai de sua pele
E sinto o fervor me queimar e me queimo em êxtase
Toco a música do teu riso que ressuscita minha alma
Que rouba minha atenção e eu te amo ainda mais
Toco a sinfonia do teu coração que por vezes eu ouvia
Deitado sobre seus seios nus
Eu te sentia viva e batendo dentro de mim
Tinha medo daquele som se tornar distante
Mas tinha mais medo ainda dele parar de bater
Seu cheiro estava em todos os lugares, estava em mim
E olhando aqueles espaços vazios eu chorei
Abracei  meu violoncelo (teu corpo) e chorei
Lágrimas de um palhaço triste, de um poeta sem amor
De um músico surdo, de um dançarino sem pernas
Eu te amei como os pássaros amam o céu
E as abelhas o néctar
Você era meu instrumento mais lindo
Eu me perdia e me encontrava ao te tocar
Tu eras a mulher mais essencial de minha vida
A rosa mais estonteante a desabrochar
Eras a minha fonte de plenitude
Minha agonia e meu prazer
Por mais que eu sinta falta da tua carne
Sinto mais falta ainda do teu ser
Você foi o ser mais lindo que já me aconteceu.

                 Ísis Caldeira Prates

domingo, 29 de junho de 2014

Sacie meu íntimo aflito

Escrevo um fabulário pessoal
Envio cartas aos desconhecidos
Minhas membranas celulares dramáticas
Deixam passar substâncias afetuosas
Crônicas de um amor louco
Desafio a gravidade
Flutuo exuberante por alamedas "in memoriam"
Cavo e cavo sem parar
Preciso chegar ao outro lado de mim
Preciso conhecer minhas faces
Vago pela minha mente
Prefiro tomar as lembranças com cafés quentes
De frio já basta o inverno da alma
Minhas bocas se calam por medo de perecer
Eu tenho a pele delicada, ingênua e nua
Sou nua toda hora
Até na casa sua
Prendo meu cabelo
Minhas costas ficam expostas
Beije minhas marcas de chicote
Pois sou escrava rebelde
Eu sempre vou para o tronco.

Ísis Caldeira Prates




Um pouco mais de respiração

Eu estou me deitando louca em cima de minhas lembranças
Estou perdendo o controle e entrando em estado de decadência
Eu estou distante e furtiva
Sozinha
Sem vida
Com o peito formigando em dor
O tempo fechou hoje e eu não vi
As verdades minguaram e escorreram em meus dedos
Eu não sou mais a mesma
Sentir falta de algo mata a gente
Destrói a gente e desespera nossos corações aflitos
Estou falida de amor, se eu encontrar consolo que seja eterno
Porque se for para acabar de novo
Me mate, me deixe na lama ou no lixão de minha alma
Eu ando distraída, tem gente que já não entende
Tem gente que já não me vê
Os olhos já não refletem os distúrbios que eu deveria ver.
 

                      Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 24 de junho de 2014

Você primeiro

As partidas matam uma parte de nós
É como saber que está morto e continuar
Carregando a morte como lembrança de algo que acabou
Por que acaba?
É cruel saber que você vai amar mais aquele que te deixar
Porque despedidas não matam sentimentos
Matam a esperança, matam pessoas, mas não sentimentos
Esses ficam e não mudam
Nós os guardamos, mas ouça uma música que te toca
E BANG! Ele está de volta, mais cruel e insolúvel
A gente dá tudo de si, que droga isso, que grande droga!
E depois ficamos perdidos como um pássaro que voa
E não tem um lar para pousar
A gente ama os mais loucos, sem cabimento e distantes amores
É como beber para ficar feliz, exagerar e chorar no fim da festa
Você não sente falta da pessoa, mas de quem você pensou conhecer
Quebrar idealizações é doído, é um processo frustrante e inacabado
Já chega de amores inacabados, por que acabam?

               Ísis Caldeira Prates

Meu tocafitas

Coloquei meu tocafitas para funcionar
Ouvi lendas como Joplin, Cash e Buckley
Viajei na imensidão que saía daquele som
Eles tinham muito a dizer em suas oscilações
Senti uma mistura de inconsciência com consequência
O sentimento na música deles me embebedou
Eu que já estava confusa da vida, só precisava daquele porre
Tomei um porre de alma, de loucura e paixão
Tinha um pássaro azul querendo sair das minhas entranhas
Eu entendi o vício e a decadência que eles tinham
Viver é se destruir, enlouquecer e se fazer livre das vitrines
Tem dias que nós queremos ser apenas o que somos
Sem fugir ou lutar
Apenas o que somos e amamos
Apenas humanos com algum lugar no mundo
Queria meus olhos verdadeiros
Aqueles cansados e sozinhos
Aqueles que me buscavam dentro de mim
Meu tocafitas me contava minhas lembranças e meus delírios
Tem dias que só precisamos disso, viver nossos delírios.

      
                Ísis Caldeira Prates

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Minha consciência

Ela é nova na cidade
Tem olhos grandes
E um ego atraente
Tem quadris bonitos
E um cabelo escuro como a noite sem estrelas
Ela me olha como um rio
Ela é uma correnteza
Que me leva ao fundo de mim
Me leva aos meus extremos
Me bebe e me suga
Como se eu fosse atrativo para sua boca carnuda
Ela se move levemente em tom de melancolia
E é sensual como eu nunca vi
Tem um meio sorriso magnético
Que me leva até ela sem esforço algum
Se eu a vir nua, receio que me queime
Que enlouqueça e que para sempre a tenha
Se eu me lambuzar da alma dela
Serei infame e vulgar
Serei um meio engenhoso de calefação
Não sei se devo embebedar-me dela
Tenho medo do crime e de sua religião
Ela se desfaz em minha mente
E abarca cada parte minha
Sua correnteza por vezes empoça
Nas vielas do meu ser
Eu ainda a quero nua
Eu teimo em querer
Ela é um fogo que me consome
Quero fazer amor com ela até o amanhecer.

                     Ísis Caldeira Prates

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Entardecer na praia

E no final não tem para onde correr
Mesmo com toda a dor
O amor é o significado da vida
É a eternidade que ecoa por nossas veias
É a morfina que nos permite abrir os olhos
É a loucura que nos incendeia
É o caos e a paz que adormece
O amor é uma cura
É um momento de compaixão
É uma sede pela vida
É uma estrada rumo a redenção
O amor é todas as lembranças felizes que guardamos
E as ruins que perdoamos
O amor é arritmia cardíaca
É se doar sem saber se vai receber
É um entardecer na praia
Com a brisa no rosto
O barulho das ondas
E um formigamento no peito
É deixar a casa aberta
E mesmo que a invadam e depredem
Você continuará lá
Esperando por quem partiu
O amor é nascer de novo
Como as flores que florescem em pântanos
É o silêncio versificado no olhar
Que fala e entende aquele ser que se ama

E eu ainda estou buscando esse amor, me mostra como é?



               Ísis Caldeira Prates

segunda-feira, 9 de junho de 2014

O amor acaba em álcool

Eu deveria era ter tomado um porre
Depois de ter te visto
Beber tudo que eu nunca bebi
Beber até esquecer quem eu era
E assim eu esqueceria você
Te esquecer por uma noite
Eu preferia ter vomitado as tripas
Mais do que ter chorado tanto
Eu queria te vomitar
Vomitar toda a sua toxina que havia em mim
Você que um dia foi minha cura
Agora é meu antígeno
Ainda não vi o outro dia que tanto falam
Vai doer até que dia?
Vou enfiar o dedo na garganta
Estou com bulimia de você.

               Ísis Caldeira Prates

domingo, 8 de junho de 2014

Psicopatológica

Então a gente se agride
Se espanca
E se molesta
Fazemos da dor um gozo
Orgásmico
Como um entorpecente
E depois ficamos ali
Deitados e calados
Com nós mesmos
Solitários
Aflitos
Arrombados
Corrompidos
Fodidos
E doidos
Ficamos completamente doidos
Esperando o amanhecer
Será que ele chega?

    
               Ísis Caldeira Prates

sábado, 7 de junho de 2014

Amor de partida

Então o amor serve para isso?
Para matar a gente e partir?
O amor vai embora e a gente fica?
Me responde! Eu preciso de uma resposta!
Para com esse silêncio que me agride
E me despedaça no chão
Eu preferia levar vinte socos na cara
Ao invés de ver você partir
Eu estou chorando porque está doendo
É como se o mundo não me coubesse
Eu quero sair correndo sem rumo
E desabar no colo de uma alma bondosa
Que conforte meu sofrimento
Eu te amei demais, eu sei que amei
Ainda amo
Que ironia foi você
Me mostrou o mundo
E depois levou tudo que eu tinha
Eu só tinha nós dois
Não tenho mais nenhum de nós
O preço de gostar é muito caro
Eu não tenho como pagar, sou uma devedora
Você foi minha parte mais bonita
Me fez sorrir do fundo da alma
E hoje eu estou chorando do fundo da alma
Por não te ter
Você foi o meu paraíso
E hoje as luzes se apagaram
O paraíso se tornou vazio e sádico
Brutal, sem vida
Mas respeito sua escolha
Você foi sincero comigo
E achou melhor partir
Apesar de tudo eu quero que seja muito feliz
E que realize seus sonhos
Você disse que não era bom com despedidas
Mas eu nunca me despeço, não fecho minhas portas
Acho que amor é o que fica depois da partida
Amor é o que você descobre depois que o outro vai embora
O amor é feito de lembranças e de perdão
É continuar amando em cacos
É continuar desejando o bem
Amor é feito de despedidas, que vieram de encontros maravilhosos
O amor é feito de escolhas e de aceitação
É sentido para nos amadurecer
O amor é feito para os fortes e corajosos
E não para qualquer um
É o maior aprendizado da vida
Amar é conhecer o outro e se reconhecer
Amar é alimento, uns dias em fartura noutros em escassez
O amor é eterno, marca o corpo e alma
E ninguém passa por nossas vidas sem amor
O amor não é um sentimento
Mas sim os nomes que guardados na memória
Eu te amo meu bem, fica bem
Nos vemos por aí.

                 Ísis Caldeira Prates

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Afundar naqueles olhos desconhecidos, que beijam minhas pupilas dilatadas em busca de amor. Vivenciar todas as suas loucuras que desnudam minha pele e me fazem torpor, acreditar em teus devaneios lunares e bagunçados por memórias indecentes. Criamos fantasias lúdicas, poetizadas e delicadamente silenciosas. Eu beijo sua melancolia, beijo suas tristezas e você me tem por fim. Eu te envolvo em meus braços e coloco suas agonias para dormir. Te aqueço mais que os dias ensolarados, te respondo em versos intensos de cor. Eu durmo ao teu lado que é para sonharmos acordados com nossos exageros insanos de amor. Nós nos suplicamos, nos queremos e nos eternizamos, teu calor suga-me para você e eu já não vejo mais, já não enxergo mais os erros cometidos. Nós estamos corrompidos, necessitados, tresloucados por essa dança faminta. O amor é como as rosas que não murcham, apenas soltam suas pétalas para ecoarem na eternidade de nossos caminhos, de nossas histórias e de nosso entardecer.

                     Ísis Caldeira Prates

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Confissões de uma humana que não sabe mais amar

Eu me sinto uma naufraga
Acordando em uma ilha deserta
Na areia, com as ondas batendo em minhas costas
Me sinto cansada e desnorteada
Estou redundante e pleonástica
Meu lápis tem escrito as mesmas palavras vazias
Sinto-me vazia como um jarro esperando pelas flores
Há um vão em meu ser
Um corredor da morte
Flores murchas em meu jardim incendiário
Escrevo cartas sem destinatário
E elas estão se acumulando em mim
Espalhando poesias sem par
Fazem-me cruzar todos o meus mares
E acabar apenas em ilhas desertas
Meu corpo não atende minha alma
Minha alma não atende meu corpo
A solidão já se tornou minha cúmplice
Não sei mais sobre o amor
Logo eu que sou tão intensa
Não sei mais como amar
As partidas esfriaram minha esperança
E do eu preciso agora?
Você diria que é amor
Eu digo que tenho medo
Que loucura essa minha
Eu, sentindo medo...?
É que as partidas me arrancam pedaços
E fico na carne viva
Eu não esqueço e nunca para de sangrar.


        Ísis Caldeira Prates




terça-feira, 3 de junho de 2014

Aventureiro do meu corpo poético

Ele me beija como quem quer abrigo
Tem uma alma de menino
Que exala liberdade
Os olhos meio puxadinhos
Traduzem sentimento de forma lúdica
Ele tem uma essência suave
De quem conhece as ondas do mar
E deixa o sol entrar pela janela de manhã
Ele é uma mistura interessante
De afeto e prazer
Desperta em mim meu eu livre
Que sente desejo de se aventurar pelo teu corpo
Ele tem o beijo macio e lento, tortura minha carne pedinte
Me faz ansiar pelo seu íntimo aflito
Ele tem meus instintos, minha boca e meu querer
Eu o inundaria fácil e ele se afogaria no meu ser.

           Ísis Caldeira Prates

domingo, 1 de junho de 2014

Escapismo

Eu olho as borboletas pousando nas flores
Tão suaves e pacíficas
Eu queria ser suave
Mas não sou, nunca fui
Se olhar no meu horizonte
Sempre vai ver minha tempestade vindo
Eu sou inconstante e feroz
Às vezes acho que há um mundo paralelo em mim
Eu estou e não estou aqui
Sou passageira e me acho infinita
Descobri que vivo e transito pelos orgasmos vazios da vida
Acho que estou envelhecendo
Achei um fio de cabelo branco esses dias
Sou uma abelha sem mel
E pelas leis da física nem poderia voar
Preciso de amor
Mas amor sem rótulos
Amor só com alma
Amor que nem curativo
Preciso de um ser que me sinta nas entranhas
E que seja cuidadoso em minhas rodovias
Eu preciso de compaixão, olhos que se queimam de tanta emoção.

              Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 27 de maio de 2014

Violentada

Eu tentei fechar meus olhos para sentir a brisa em volta de mim
Mas eu não pude fechá-los
Eu estava incrustada na realidade
Engaiolada nos ressentimentos mundanos
Eu tinha uma pequena percepção de mim mesma
Sentia-me como um trabalhador que trabalhava 14 horas por dia
E nada fazia contra o sistema perverso
Eu estava sendo espancada pelos egos ferozes
E as escoriações se difundiam pela minha pele
Eles não entendiam minha poesia
E eu ficava cada vez mais insana e medíocre
Tão quanto eles
A cada dia mais sem escrúpulos, sem coragem e devastada
Comecei a sugar as obscenidades desalmadas
Os socos deixavam hematomas expostos
Os agressores me violentavam
E eu me confortava neles
Estava doentia
Com distúrbios analíticos
Sedenta por me afogar ainda mais no meu inferno astral
Meus olhos já me escondiam
E eu quebrava os espelhos de minha casa
Sempre entendi a mentira que emanava das paredes
Mas não tinha força para fugir de mim
Despoetizei-me e me industrializei
O mundo tapava minha boca e me agredia por entre as pernas.


     Ísis Caldeira Prates


                           Pintura Hiperrealista de Amanda Joseph


sábado, 24 de maio de 2014

Amor em 4 atos

Primeiro ato:
Beijar sua melancolia e morder seus vazios
Segundo ato:
Lamber sua agonia e molhar suas abstinências
Terceiro ato:
Sugar seus abismos e deslizar por suas aflições
Quarto ato:
Fazer jorrar sua carência e derramar sua censura no chão.
     
               Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Poeta que me versifica

Porque você moço,
É do tipo que faz o céu brilhar mais perto
Tem uma alma distinta dos andarilhos errantes
Tem os olhos negros feito o hiperespaço
Gosto da tua poesia suave
E da tua boca bonita
Sinto que você tem braços que abraçam em efeitos sonoros
Tens um coração pedinte, daqueles que escondem seu encanto
Ah moço, adoraria mergulhar em suas águas turbulentas
Despertar suas dores e curá-las
És sinfonia que fala ao meu ouvido
Que me treme o corpo e arrepia a pele quando escreve versos de amor
Pode pedir minha boca em seu corpo faminto
Eu desdobrarei suas curvas poéticas
E aquecerei seus instintos
Vorazes almas que se cruzam por poesia
Olhos profundos com raios de aurora
Mostra-me teus desejos e eu te mostro meus paraísos estelares
Somos intensos e patológicos
Talvez complementares
Me explora mais um pouco
E eu te dou a liberdade de estar ao meu lado.



               Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 13 de maio de 2014

Inscrita

Meu amor está saindo pelos meus poros
Eu nunca tocarei um ser sem deixar nele um pedaço meu
Não consigo deixar que saia sem levar meu perfume
Não admito não despertar as almas que toco
Eu preciso ser infinita em tuas lembranças
Estar fixada em seu cosmo psicológico
Eu preciso me doar
Preciso preencher seus vazios
Eu tenho a necessidade de inundar meus cúmplices
E salvá-los do afogamento
Eu preciso ser seu paradoxo
Aquela incógnita cíclica que não tem fim
Eu preciso que me procure
Por desejo ou curiosidade
Se eu te deixar entrar
Aprenda a tocar minha sinfonia
Meu corpo é um instrumento que toca melodias melancólicas de amor.

          Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Eu beijo tua boca para satisfazer minhas anomalias sentimentais, eu te procuro no céu da tua boca, no qual há um infinito de estrelas alucinógenas. Eu te perturbo como um vício, invado e violo suas veias feito heroína, sinto o teu gosto que se alinha aos meus distúrbios. Você sente meu âmago explosivo, que tortura suas carências e eu te bebo inteiro e você me transborda. Nosso beijo tem troca de insanidades e eu entendo suas necessidades. Eu mordo teus lábios porque a dor é solidária.

Ísis Caldeira Prates



sexta-feira, 2 de maio de 2014

Prolixa verbalizada

Olhando da janela a rua monótona
Percebo almas obsoletas
Sozinhas
E da janela vejo meu reflexo
Me sinto melhor por não ser como eles
A vida comum se faz com banalidades
Mas a minha não
Carrego meus distúrbios, vícios, indecências
Tenho pensamentos sujos e como tenho
Sou paranoica, doida
Mas tenho uma alma completamente mágica
Daquelas que não se esquece
Não há mentira no meu desejo
Nem nas minhas vontades
Gosto do desalinhado, do estranho
Eu gosto mesmo é do estrago
Dos sorrisos maliciosos
Dos beijos com entrega
Eu gosto do meu corpo e da minha sensualidade
Eu gosto de mim, dos meus anseios
Das minhas inundações e regenerações
Eu aprendi a ter asas para pular dos meus abismos
E voar o mais alto que eu puder
Tenho meus inúmeros dias de escuridão
Mas minha solidão é permanente
Ela me ensinou a ser minha
E a ser como eu sou
Eu sou um continente fragmentado
Carrego em mim todos os meus preconceitos e condutas
É claro que sempre estou em guerra
Sempre estou no meio da guerra entre a virtude e o imoral.
      

              Ísis Caldeira Prates

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O tempo e o vento

Sinto a sensibilidade nesses meus passos frios
Que abordam minhas necessidades
Sinto que estou envolvida em um nevoeiro
De lembranças sonâmbulas
O vento que passa entre meus cabelos
Parece levar os anos, os dias, as noites
Carrega a beleza corpórea
Leva de mim toda a minha parte carnal
Mas os desejos e os sonhos ficam
Esses, nem o vento, nem o tempo e nem a morte hão de levar.

         Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 29 de abril de 2014

Escrita

Volte aqui
E escreva suas obscuridades
Em minha pele
Eu não vou fugir
Eu quero lidar com sua dor
Pois a dor é o campo dos clamores
E eu quero ouvir o clamor da sua alma
Pela minha pele escrita com sua escuridão.

      Ísis Caldeira Prates

Vulgar

Verbalizo minha vulgaridade
Confesso essencialmente que sou poeta vulgar
Tenho uma alma explosiva
Um fetiche pelo mundo
Tenho fetiche por mim mesma
Sou errante, profundamente errante
E me vulgarizo para fugir da hipocrisia
Eu estou acordada para a vida
Quebro meus tabus encarnados
Me distinguo na multidão de escravos cegos
Eu não censuro meus desejos
Abstraio-os e me conserto
Meus cacos sempre se renovarão no chão
Eu aprendi a lidar com o efêmero
Então eternizo os instantes
Meus dias de glória não vão voltar mais
Mas minhas incertezas ficarão no caminho
Porque eu sei que vivo
E viver é se despedaçar todos os dias
Em todas as quedas
E mesmo assim saber fazer brotar dos cacos
Rosas perfumadas de loucura, intensidade, verdade e amor.
        

             Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Inconsciente


Ela saiu,
Com aquele crepúsculo no olhar
Eu nada pude fazer
Ela se foi,
Como quem vai para a prisão
Ela me deixou,
Eu vi meus medos entrarem
Ela partiu,
Eu colei-a em minhas lembranças
Ela lembrança,
Eu baú velho
Eu quero aquela borboleta
Que saiu do meu estômago
Não me deu satisfações
Ela não me levou,
Eu fui pouco
Eu fui bobo
Eu fiquei sem ela
Ela me amou,
Eu não a amei
Ela escreveu poemas,
Eu a abandonei
Ela era contexto,
Eu obsoleto
Frio
Desalmado
Deixei ela ir.

Ísis Caldeira Prates






domingo, 20 de abril de 2014

Penumbra

Toca minhas vestes poéticas com suas mãos
Ah meu amor, não me perca de vista
Não pisque, apenas feche os olhos
Para sentir meu cheiro doce
Beija-me a pele em chamas
Abstraia-me em teus pensamentos
Suga-me o desejo
Sussurra em teu beijo palavras de querer
Afoga minhas preocupações no seu prazer
Me faz esquecer de tudo
Me mostra no seu habitat toda a sua volúpia
Quero sua necessidade
Viabiliza minha passagem para chegar no seu corpo
Risca o fósforo e acenda a luz nessa nossa escuridão
Deixa-me enxergar teu rosto
Porque quando sair pela minha porta
Quero que leve tudo de mim
Por favor, não deixe nenhum resto.

   
      Ísis Caldeira Prates 
   

Poeta morta jogada ao vento

Afoga-me no teu chão com seus braços
Encha-me, depois beba-me até a última gota
Sou poço sem fundo, um completo exagero
Preciso que me deixe em pedaços
Que me parta de corpo inteiro
Antes de sair apague a luz e feche a porta
Preciso morrer primeiro
Depois eu penso em mim.


      Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 15 de abril de 2014

Extrema expressão

Parei de lutar contra a correnteza da vida
Parei de querer me prender ao passado
Que nem me cabia mais
Já chega de culpa pelo pudor tirano
Já chega de apego as coisas efêmeras
Viver é digno, errar é digno
Experimentar é digno
Ser intenso é escandalosamente digno
Provar o gosto com a boca, com as mãos, com os sentimentos
Esgoelar as loucuras na montanha mais alta do ser
Ser e não parecer
O caminho não pode ser vazio de emoções
Que sejam turbulentas essas correntezas
Que sejam calmarias
Mas que sejamos personagens principais
Abra as cortinas e explore o palco
O tamanho da platéia não demostra o talento do ator
Porque quem atua para si mesmo é o melhor e mais crítico artista
As risadas, os choros, os gritos, as melancolias, as decadências...
Tudo faz parte do show, tudo é natural
Liberdade é morar em si mesmo
Não é apenas aceitação, mas também inexatidão
Não tem um de nós que é perfeito
Mas nos tornamos dignos de aplausos
Quando o que queremos é apenas atuar
Sem depender do público para continuar o show
Expressar-se é digno
Ter coragem é sublime
Viver é a expressão da arte que ecoa das nossas falas, pensamentos e ações.


Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Final de nós dois

Já tem quase uma semana
E eu ainda não escrevi nada
Você conseguiu me calar
Ninguém nunca havia conseguido
Não sei porque me calei
Deve ser que não quero acordar
Talvez seja só um sonho ruim
A verdade é que se eu lembrar eu choro
Choro feito criança quando cai e machuca
Fico lembrando daqueles dias cheios
Que preenchiam meus vazios
E eu achava que não tinha nada a temer
É difícil aceitar os seus erros
E os meus equívocos com você
Difícil aceitar que você foi passageiro
Que eu somei e você sumiu
Que eu fui te perdendo quando eu nunca tive
Eu não sei porque estou te escrevendo
Qual diferença irá fazer?
Me sinto faltando um pedaço
Você foi e levou parte de mim
Agora eu entendo os textos clichês de amores acabados
Só agora eu entendo falta de graça na vida e nas coisas
Eu ainda sinto seu cheiro antes de dormir
Eu ainda espero por mensagens suas pela manhã
Ainda quero que seja feliz
Ainda te amo e me lembro de tudo
Você me magoou sim
Me senti objeto descartável
Mas minha poesia ainda insiste em você
Se sentir falta volta, não te proíbo
Mas volta com certeza de que me quer
Eu sinto sim a sua falta, mesmo sabendo que você não vem mais
Eu não posso dizer que tanto faz e que não dói
Eu não sou como você.


Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 8 de abril de 2014

Nudez

Dispo-me dessas roupas
Roupas que não são minhas
São do mundo

Estou nua para mim mesma
Nua de minha distinta loucura
Nua por meus desejos atendidos
Nua por meus instintos não censurados
Estou nua e de volta a minha essência
De volta as minhas correntezas psicológicas
Estou nua por fazer parte de minha natureza
Posso deitar-me na lama do meu ser
Posso deitar-me em minhas águas cristalinas
Nua eu sou viva, voraz e real
Me distinguo em minha nudez
Me faço eterna em minhas curvas poéticas
Nua eu sou peregrina de minhas incompatibilidades
Eu me faço poeira cósmica
E levo comigo todas as partes do universo que me cabem
Eu viro explosão das estrelas
Que ilumina os corpos em estado de nudez.


             Ísis Caldeira Prates

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Algum outro lugar

Vamos nos diagnosticar
O céu nos espera
E espera limpo e voraz
Deixemos as lembranças passarem
O que há de vir, virá
Vamos fechar os olhos
E sentir o movimento
Esse que move nossos corações
Essa força inesgotável
Que nos tira do chão
Vamos ser felizes mais um dia
Deixemos as limitações
Vamos criar pontes
Vamos amar o quanto pudermos
Vamos crer no inatingível
Precisamos nos movimentar
Caminhar pelos cômodos de nosso lar
Abrir as portas e as janelas
Para o sol entrar
Somos mais que pensamos
Podemos mais que imaginamos
Somos transformadores
E precisamos muito acreditar nisso.

        Ísis Caldeira Prates

segunda-feira, 31 de março de 2014

Capítulos que se queimam

Seus olhos estão ilegais hoje
Pecaminosos, ferozes, acesos
Tem um vento frio passando entre nós
Arrepiando a espinha
O escuro vem para nos preencher
Gosto do seu cheiro
Sua boca, seus pensamentos
Seu sorriso malicioso
Você tem o balanço do tango argentino
Dança comigo?

    
      Ísis Caldeira Prates

domingo, 30 de março de 2014

Então nada passa Lola?

- Acho que eu sou Bukowski versão feminina.

- Para com isso Lola, você nem bebe.

- Eu bebo tristeza, solidão e incertezas todos os dias. Bukowski tinha o álcool de consolo, eu só tenho a vida.

      Ísis Caldeira Prates

Ele

Ele tem uma poesia branda
Naqueles olhos de menino
Ele tem uma beleza leve
E também marcante
Naqueles olhos suaves
E até distantes
Ele tem um mundo tão subjetivo
Naqueles olhos de menino
Ele tem aquele olhar pacífico
Distinto e sincero
Ele tem aqueles olhos cristalinos
De águas fundas e expressivas
Ele tem aqueles passos
Gostosos de quem chega em silêncio
Ele tem aqueles olhos silenciosos
Que me pedem abrigo
Ele é tão menino
Nem sabe que é tão colorido
Aquele olhar que me desmonta
E me leva para o mundo dele
Onde nós dois estamos despidos
De todos os pesos que nos impediam
De ficar
Ele me tem, e como tem.

         Ísis Caldeira Prates

Epitáfio

Meus olhos cansados, serenos e inundados
Estão vagando pelos pontos fixos encabulados
O amor por momentos tem me desconsertado
Vida prolixa jogada ao mar, no lixo que boia
Sabe sobre essas minhas vestes poéticas?
Elas murcharam feito flores nos vidros
Eles cortam as flores e colocam-nas em vidros com água
Assassinos! Vocês já a mataram!


     Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 28 de março de 2014

Paradoxo complementar

Eu sou nada
Quando o mundo quer que eu seja tudo
Eu sou tudo
Quando o mundo quer que eu seja nada.

       Ísis Caldeira Prates

quarta-feira, 26 de março de 2014

Solilóquio

Insistir para eu não lembrar
Decepção
Decepcionante
Vazio descompensado
Dor aguda
Medo da solidão
Lugares distantes
Gélido ouvinte
Ele não me atende mais.

       Ísis Caldeira Prates

segunda-feira, 17 de março de 2014

A remotis

Essas lembranças...
Volumosas lembranças
Pouco densas
Fazem-me afundar
Em suas mistificações
Como podem ser tão enganosas
Se são minhas próprias lembranças?
Fico envolvida e banhada nesse marasmo
Disfarçado de vulcão em erupção
Perco o senso de coletividade
Então sou apenas eu
Ironicamente só, sou apenas eu
Sem mais delongas nem sufrágio
Não cavo minha cova
Nem estendo as mãos ao céu
Estou sobre a terra
Enquanto a floresta cresce por cima de mim
Fico enraizada de novo no ventre onde nasci.

            Ísis Caldeira Prates 

sábado, 15 de março de 2014

Transmissão vertical

Então nasci chorando
Mas será que era medo do mundo?
Seria o mundo meu ofensor?
Ou eu a ofensora do mundo?
O problema é que já nasci
Sendo empurrada goela abaixo
Os medos e frustrações maternos
Ah mãe, poderia me transmitir tantas coisas
Mas não seus medos e valores obsoletos
Poderia me transmitir liberdade
Ter me passado os genes que tinham asas
Mas não as suas correntes
Ah mãe, nós não somos pecadores
Somos vítimas de nós mesmos
Vítimas de sua educação opressora
Então temos vidas vazias
Somos medíocres e hipócritas
Ah mãe, o que farei com você?
O que ainda fará comigo?
Quero ser salva e quero salvar-te
Mas quem sou eu para enfrentar
A ti mãe Sociedade?

           Ísis Caldeira Prates           

quarta-feira, 12 de março de 2014

Buraco negro

Olhe, os cabelos estão mudando de cor
O caminho está banhado de reconciliações
E as flores brotaram dos terrenos pedregosos
As capacidades se evidenciaram
E os medos se transformaram em coragem
Porque eu sou ventania que percorre os polos
Perfume que viaja pelos ecos de eternidade
Corpo alado e liberto da opressão do pecado
Corpo santo de relicários eufemistas
Eu sou o tempo que me foi dado
Desbravadora da realidade vivida
Eu sou o produto de minhas lembranças
No universo eu sou o paralelo entre
Início, meio e fim.
 
  Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 11 de março de 2014

Mãos ao alto, cueca e calcinha no chão

Posso te contar uns segredos
No pé do ouvido?
Posso morder também?
E falar besteiras que você gosta?
Deixa eu tirar sua roupa
Morder sua boca
E me encaixar em você
Deixa eu tirar sua cueca
E engolir todo o seu prazer
Posso tocar o céu e o chão a noite inteira
Sentir sua respiração ofegante e suas mãos viajantes
Bonito mesmo é ver você gozar para mim
Nós dois suados e despidos
Nesse nosso universo particular sem fim.

    
             Ísis Caldeira Prates

domingo, 9 de março de 2014

Em vida

É nele que eu me entrego
Entrego tudo de mim
Todas as minhas utopias
e sentimentalismos
Todas as minhas hipérboles
e eufemismos
Minhas observações
e necessidades
Minhas luzes e escuridões
Eu me entrego porque sou viva
Depois de morta ele não há de me querer

                
             Ísis Caldeira Prates

sábado, 8 de março de 2014

Amor horizontal versificado

Meu coração acelera quando você me procura
Meu sorriso se abre em flor
Desabrocha margarida rabiscada de amor
Você me dá borboletas no estômago
Pernas bambas e arrepios noturnos
Meu corpo sente falta do teu calor
Seu cheiro torturante que me prende a você
Ah como eu queria você perto todos os dias
Beijos e mais beijos
Carinhos e mais carícias
Abraços e mais afagos
Fogo e mais fogueira
Você e uma cama inteira
Versos escritos com o calor do nosso amor.

   
          Ísis Caldeira Prates

segunda-feira, 3 de março de 2014

Não estou sentindo, estou prevendo

Crueldade essa de amar sozinha
De querer sozinha e sem mais
Gostava dele como a brisa
Que balançava meus cabelos
E minha alma
No entanto não sabia
Que ele era passageiro
Eu, objeto fugaz

          Ísis Caldeira Prates

Eu te escrevi muito não foi?

Eu o vi com metáforas
Com gritos silenciosos de amor
Sufoquei tantas incertezas
Tantas medidas de clareza
Eu quis omitir certos aspectos
Os mais importantes, mais que detalhes
Retalhos vazios da procura por ti
Te querer demais foi um erro
Me entregar foi castigo
Castigo eterno da mal-amada
Antes só, antes serena
Quem me dera voltar atrás
E fazer tudo igual
Porém, com alguém que me amasse
Mais que você amou
E se amou...

          Ísis Caldeira Prates

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Ele passageiro

Eu queria te escrever pro resto da minha vida
Escrever tudo sobre nós dois
Descrever tudo que sinto
Tudo que acho bonito e infinito
Escrever todos os impactos caudados por você
Em mim, tudo em mim
Difícil é aceitar que você não pretende ficar
Se vai sair, saia também de dentro de mim.


        Ísis Caldeira Prates 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Esse amor de mansinho que tem cheiro de nós dois

Deita comigo na grama debaixo das estrelas
Observa comigo o infinito
A leveza da noite e a lua misteriosa
Sem ter nada o que falar
Apenas sentir nossos corpos cheios
Da presença sincera de nós dois
Sinto a noite, a lua e as estrelas como um lar
Mas olhar seus olhos me mostra um infinito
Que eu quero vivenciar
Posso trocar as belezas mundanas
Por esses olhos vivos e tímidos
Aconchegantes e quentes
Que alimentam minhas fantasias
Quero tanto você, mais que nos meus pensamentos
Me dói tê-lo distante
Vem me ver nessa casa vazia
Aqueça meus lençóis solitários
E beije essa boca que te quer
Experimenta um pouco se entregar aos meus braços
E eu faço-te perder a linha e o caminho de volta para sua casa.

          Ísis Caldeira Prates

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Vielas

Amar meus vazios obsoletos
Meus intrigantes destinos
Minhas decadências furtivas
E minhas paisagens cataclismáticas
Amar minhas oscilações e desventuras
Minha ética protestante
E minhas aflições intrínsecas
Amar minha arte boêmia 
Meu estado demente de fixação
Amar-me por mim, por nós 
E por fim, em prol dos meus desajustes. 


           Ísis Caldeira Prates





 

Eclipse total

Os olhos abertos no escuro
Viam a luz trépida distante
O coração batia em pulsações azuis
O sinal subia e descia lento
Uma dolência escorria das pálpebras 
Amar parecia tarde
Sequências eloquentes de invasão
Golpeavam a consciência amorfa
Dos casulos escorria vergonha
Alimentando as agonias viscerais 
Tapete puxado no desconhecido
Antes da dormência, viu-se em 
Eclipse total.


      Ísis Caldeira Prates

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Você me desculpa?

Me desculpa pela chatice
Pela cobrança exagerada
Pela falta de paciência
Me desculpa pelos enganos
Pelos equívocos
E pelas bobagens
Me desculpa por ser tão cheia de fases
Desculpa o drama
Mas senão fosse assim não seria eu
E você não gostaria de mim
Desculpa os defeitos
Desculpa por te querer tanto
Desculpa a preocupação
É que você é a porta desconhecida
Que eu insisti em abrir
Não me arrependo
Abro de novo e de novo
Todos os dias
Enquanto nos fizer bem.

     Ísis Caldeira Prates

Eu minto para mim

Eu ouço a voz dele à noite
Debaixo do meu lençol
Ele diz baixinho
Com voz de menino
Que me ama também

Mas é tudo sonho
Nenhuma noite ele vem
Eu sei, não tenho ninguém.

    
          Ísis Caldeira Prates

O que você quer de mim?

Eu gosto do cheiro de chuva que você tem
Eu gosto do escuro quando você vem
Eu gosto do gosto suave da sua boca
Eu gosto de andar na sua corda bamba
Eu gosto das ondas dos teus olhos
Eu gosto das batidas do seu coração
Eu gosto de pensar em você
Eu gosto de te ter por perto
Eu gosto do seu sorriso
Eu gosto de quase tudo em você

Eu não gosto da sua distância
Eu não gosto das suas partidas
Eu não gosto de te sentir de longe
Eu não gosto da sua insegurança
Eu não gosto da sua covardia
Eu não gosto do seu medo
Eu não gosto do seu desinteresse
Eu não gosto da parte sua que não me ama
E não sei se eu gosto de você
Ou se eu te recriei só para suprir o meu prazer.


          Ísis Caldeira Prates

O amor que eu preciso

Eu só preciso de um amor que ama
Que vem de mansinho
Que me vem com carinho
Eu só preciso de um amor bonito
Que me precisa e que me tem
Eu só preciso de um amor amigo
Que também seja abrigo sem me fazer refém
Preciso de um amor que fala com os olhos
E com as batidas do coração
Eu só preciso de um amor de alma
Daqueles que tiram o chão e dão as estrelas
Eu preciso de um amor atento
Que faça meus remendos quando eu estiver no chão.

           Ísis Caldeira Prates

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Morte poética

O frio atinge e pulsa no corpo febril
As peles finas não se defendem
O gelo vai calando os órgãos
Petrifica o vermelho vivo
Poesia morta
Vai calando os olhos
Por fim, cala a vida.

       Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Preciso de gente que sabe sentir

Preciso de borboletas fiéis
Daquelas que não fogem do meu estômago
E vão embora com seu criador
Preciso de sentimentos vivos
Preciso de gestos de amor
Preciso de calor, não de frieza
Preciso de menos anestesia e mais sensibilidade
Meu coração está clamando por compatibilidade.


           Ísis Caldeira Prates

Anda pro lado da fé

Enfim, à sós comigo
Preservada em um campo de contenção
Contida em misérias e exaustão
Desdobrada por coisificação
Passo meus dias calmos
Ao lado da inundação
Percebo os velhos trapos
Que insistem em me vestir
Serão eles os primeiros a me possuir
Os ventos vêm soprando para o sul
Sul de minh'alma
Que cata latinhas
Como quem não tem para onde ir
Diz-me sereno, onde vão os primeiros?
Pois só sei ser última entre os viveiros.

           Ísis Caldeira Prates

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O perfume vermelho escorre pelos meus olhos

Todas as minhas rosas roubadas
Foram de jardins febris
Contaminaram-me com essa febre
Um vírus maligno habitando em mim
Roubei rosas tão inocentes
E seus espinhos cravaram em mim
Queria apenas contemplar aquelas rosas
Porém elas não queriam vir
Imaginei todo um encanto
No entanto, fizeram-me esvair
Não posso mais devolvê-las
Elas estão em mim
Ó céus! O crime não compensa...!


        Ísis Caldeira Prates 

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Receba-me em sua casa, eu vou e volto, eu sempre voo

Eu quero beijar tua boca sem pudor
Acariciar seu cabelo
Morder sua orelha
Segurar sua mão
Inalar o seu cheiro
Seu perfume doce
Que tortura meu toque
Eu quero conhecer seus olhos
Quero os dias luz e escuridão
Quero seus devaneios tolos
Suas carências desnecessárias
E seu modo de gostar
Quero sua presença
Seu conforto decadente
E sua sala de estar
Quero seus retalhos
Pedaços soltos
Meu quebra-cabeça
Meu cultivar
Apesar de tudo, ainda quero ser minha.

         Ísis Caldeira Prates

Meu quarto tem várias portas

Eu sempre fui abusiva
Abuso da minha capacidade
De saber que não sei de nada
Talvez eu sinta, mas não compreendo
Minha confusão é distinta
Uma incógnita existencial
Gosto dessa bagunça
Assim eu deixo tudo arrumado.

    
       Ísis Caldeira Prates

Palavras de uma sonhadora

É claro que eu te perderei quando vier o vento
A vida é feita de ventanias e nós perdemos
Perdemos tudo, perdemos até a vida
Mas olhe pelo lado bom
Também perdemos os erros, os enganos e os vazios.

       Ísis Caldeira Prates