terça-feira, 29 de abril de 2014

Escrita

Volte aqui
E escreva suas obscuridades
Em minha pele
Eu não vou fugir
Eu quero lidar com sua dor
Pois a dor é o campo dos clamores
E eu quero ouvir o clamor da sua alma
Pela minha pele escrita com sua escuridão.

      Ísis Caldeira Prates

Vulgar

Verbalizo minha vulgaridade
Confesso essencialmente que sou poeta vulgar
Tenho uma alma explosiva
Um fetiche pelo mundo
Tenho fetiche por mim mesma
Sou errante, profundamente errante
E me vulgarizo para fugir da hipocrisia
Eu estou acordada para a vida
Quebro meus tabus encarnados
Me distinguo na multidão de escravos cegos
Eu não censuro meus desejos
Abstraio-os e me conserto
Meus cacos sempre se renovarão no chão
Eu aprendi a lidar com o efêmero
Então eternizo os instantes
Meus dias de glória não vão voltar mais
Mas minhas incertezas ficarão no caminho
Porque eu sei que vivo
E viver é se despedaçar todos os dias
Em todas as quedas
E mesmo assim saber fazer brotar dos cacos
Rosas perfumadas de loucura, intensidade, verdade e amor.
        

             Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Inconsciente


Ela saiu,
Com aquele crepúsculo no olhar
Eu nada pude fazer
Ela se foi,
Como quem vai para a prisão
Ela me deixou,
Eu vi meus medos entrarem
Ela partiu,
Eu colei-a em minhas lembranças
Ela lembrança,
Eu baú velho
Eu quero aquela borboleta
Que saiu do meu estômago
Não me deu satisfações
Ela não me levou,
Eu fui pouco
Eu fui bobo
Eu fiquei sem ela
Ela me amou,
Eu não a amei
Ela escreveu poemas,
Eu a abandonei
Ela era contexto,
Eu obsoleto
Frio
Desalmado
Deixei ela ir.

Ísis Caldeira Prates






domingo, 20 de abril de 2014

Penumbra

Toca minhas vestes poéticas com suas mãos
Ah meu amor, não me perca de vista
Não pisque, apenas feche os olhos
Para sentir meu cheiro doce
Beija-me a pele em chamas
Abstraia-me em teus pensamentos
Suga-me o desejo
Sussurra em teu beijo palavras de querer
Afoga minhas preocupações no seu prazer
Me faz esquecer de tudo
Me mostra no seu habitat toda a sua volúpia
Quero sua necessidade
Viabiliza minha passagem para chegar no seu corpo
Risca o fósforo e acenda a luz nessa nossa escuridão
Deixa-me enxergar teu rosto
Porque quando sair pela minha porta
Quero que leve tudo de mim
Por favor, não deixe nenhum resto.

   
      Ísis Caldeira Prates 
   

Poeta morta jogada ao vento

Afoga-me no teu chão com seus braços
Encha-me, depois beba-me até a última gota
Sou poço sem fundo, um completo exagero
Preciso que me deixe em pedaços
Que me parta de corpo inteiro
Antes de sair apague a luz e feche a porta
Preciso morrer primeiro
Depois eu penso em mim.


      Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 15 de abril de 2014

Extrema expressão

Parei de lutar contra a correnteza da vida
Parei de querer me prender ao passado
Que nem me cabia mais
Já chega de culpa pelo pudor tirano
Já chega de apego as coisas efêmeras
Viver é digno, errar é digno
Experimentar é digno
Ser intenso é escandalosamente digno
Provar o gosto com a boca, com as mãos, com os sentimentos
Esgoelar as loucuras na montanha mais alta do ser
Ser e não parecer
O caminho não pode ser vazio de emoções
Que sejam turbulentas essas correntezas
Que sejam calmarias
Mas que sejamos personagens principais
Abra as cortinas e explore o palco
O tamanho da platéia não demostra o talento do ator
Porque quem atua para si mesmo é o melhor e mais crítico artista
As risadas, os choros, os gritos, as melancolias, as decadências...
Tudo faz parte do show, tudo é natural
Liberdade é morar em si mesmo
Não é apenas aceitação, mas também inexatidão
Não tem um de nós que é perfeito
Mas nos tornamos dignos de aplausos
Quando o que queremos é apenas atuar
Sem depender do público para continuar o show
Expressar-se é digno
Ter coragem é sublime
Viver é a expressão da arte que ecoa das nossas falas, pensamentos e ações.


Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Final de nós dois

Já tem quase uma semana
E eu ainda não escrevi nada
Você conseguiu me calar
Ninguém nunca havia conseguido
Não sei porque me calei
Deve ser que não quero acordar
Talvez seja só um sonho ruim
A verdade é que se eu lembrar eu choro
Choro feito criança quando cai e machuca
Fico lembrando daqueles dias cheios
Que preenchiam meus vazios
E eu achava que não tinha nada a temer
É difícil aceitar os seus erros
E os meus equívocos com você
Difícil aceitar que você foi passageiro
Que eu somei e você sumiu
Que eu fui te perdendo quando eu nunca tive
Eu não sei porque estou te escrevendo
Qual diferença irá fazer?
Me sinto faltando um pedaço
Você foi e levou parte de mim
Agora eu entendo os textos clichês de amores acabados
Só agora eu entendo falta de graça na vida e nas coisas
Eu ainda sinto seu cheiro antes de dormir
Eu ainda espero por mensagens suas pela manhã
Ainda quero que seja feliz
Ainda te amo e me lembro de tudo
Você me magoou sim
Me senti objeto descartável
Mas minha poesia ainda insiste em você
Se sentir falta volta, não te proíbo
Mas volta com certeza de que me quer
Eu sinto sim a sua falta, mesmo sabendo que você não vem mais
Eu não posso dizer que tanto faz e que não dói
Eu não sou como você.


Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 8 de abril de 2014

Nudez

Dispo-me dessas roupas
Roupas que não são minhas
São do mundo

Estou nua para mim mesma
Nua de minha distinta loucura
Nua por meus desejos atendidos
Nua por meus instintos não censurados
Estou nua e de volta a minha essência
De volta as minhas correntezas psicológicas
Estou nua por fazer parte de minha natureza
Posso deitar-me na lama do meu ser
Posso deitar-me em minhas águas cristalinas
Nua eu sou viva, voraz e real
Me distinguo em minha nudez
Me faço eterna em minhas curvas poéticas
Nua eu sou peregrina de minhas incompatibilidades
Eu me faço poeira cósmica
E levo comigo todas as partes do universo que me cabem
Eu viro explosão das estrelas
Que ilumina os corpos em estado de nudez.


             Ísis Caldeira Prates

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Algum outro lugar

Vamos nos diagnosticar
O céu nos espera
E espera limpo e voraz
Deixemos as lembranças passarem
O que há de vir, virá
Vamos fechar os olhos
E sentir o movimento
Esse que move nossos corações
Essa força inesgotável
Que nos tira do chão
Vamos ser felizes mais um dia
Deixemos as limitações
Vamos criar pontes
Vamos amar o quanto pudermos
Vamos crer no inatingível
Precisamos nos movimentar
Caminhar pelos cômodos de nosso lar
Abrir as portas e as janelas
Para o sol entrar
Somos mais que pensamos
Podemos mais que imaginamos
Somos transformadores
E precisamos muito acreditar nisso.

        Ísis Caldeira Prates