sábado, 21 de março de 2015

Virtuosa

No meio dos quereres e dos amores
E das perdas e dos vazios
No meio da minha solidão
Eu estou aqui
No meu quarto
No meu lar
Na minha discórdia
Estou me amando sozinha
Me amando mesmo
Inesquecivelmente
Sem frio na barriga
Sem coração acelerado
Apenas eu e eu mesma
Duas em uma
Que se amam
Que ficam até o fim
Que têm desejo 
Noturna por natureza
Do inferno ao céu 
Do acaso ao vício 
Eu tenho delírios
A vida pede delírios
E o meu quarto tem cheiro
de nicotina, da minha nicotina
Tem cheiro de viajem mental
Celeste, infernal, virtuosa
Acabo com ar nos meus pulmões
Ouço Charles Bradley
"Lovin you baby"
E me olho nos olhos
Um amor sacana
Que só os putos entendem
Me amo só
Me vicio só
Os meus meus dias continuam
E eu sou guiada apenas por mim.


     Ísis Caldeira Prates



quarta-feira, 11 de março de 2015

Espelho

Sou um pássaro livre
E vivo uma liberdade prisioneira
Eu tenho um coração indomável
Que é domado por vezes
Eu tenho uma alma de muita leveza
Que é pesada por dias
Eu sou claramente sem preconceitos
E julgo sempre
Eu sou infinitamente feliz
E minto alegrias
Eu sou demasiada espírito
Que o corpo bombardeia
Eu sou demasiada humana
O que faço com certeza
É me perdoar todos os dias.


              Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 3 de março de 2015

Manuscrito da libertação

Borboletas lépidas que deixam meu estômago
Saem pela minha boca e vão ser livres
Antes, prisioneiras do amor
Agora, livres de sorriso frouxo
Borboletas alforriadas que não tremem
Que não palpitam o coração
Que só carregam levezas e liberdade
Borboletas com intensidades degustadas
Borboletas de linhas longínquas
De desenhos místicos e muros demolidos
Borboletas com asas praticantes
Treinadas para o voo
Mas que também tocam o chão
Borboletas conhecedoras dos altos e baixos
Das alegrias e das desilusões
Minhas borboletas sabem de tudo e no fim
Nada sabem
Sabem que podem voar, mas que ainda não
Conhecem todos os mistérios do céu.

              Ísis Caldeira Prates