segunda-feira, 31 de março de 2014

Capítulos que se queimam

Seus olhos estão ilegais hoje
Pecaminosos, ferozes, acesos
Tem um vento frio passando entre nós
Arrepiando a espinha
O escuro vem para nos preencher
Gosto do seu cheiro
Sua boca, seus pensamentos
Seu sorriso malicioso
Você tem o balanço do tango argentino
Dança comigo?

    
      Ísis Caldeira Prates

domingo, 30 de março de 2014

Então nada passa Lola?

- Acho que eu sou Bukowski versão feminina.

- Para com isso Lola, você nem bebe.

- Eu bebo tristeza, solidão e incertezas todos os dias. Bukowski tinha o álcool de consolo, eu só tenho a vida.

      Ísis Caldeira Prates

Ele

Ele tem uma poesia branda
Naqueles olhos de menino
Ele tem uma beleza leve
E também marcante
Naqueles olhos suaves
E até distantes
Ele tem um mundo tão subjetivo
Naqueles olhos de menino
Ele tem aquele olhar pacífico
Distinto e sincero
Ele tem aqueles olhos cristalinos
De águas fundas e expressivas
Ele tem aqueles passos
Gostosos de quem chega em silêncio
Ele tem aqueles olhos silenciosos
Que me pedem abrigo
Ele é tão menino
Nem sabe que é tão colorido
Aquele olhar que me desmonta
E me leva para o mundo dele
Onde nós dois estamos despidos
De todos os pesos que nos impediam
De ficar
Ele me tem, e como tem.

         Ísis Caldeira Prates

Epitáfio

Meus olhos cansados, serenos e inundados
Estão vagando pelos pontos fixos encabulados
O amor por momentos tem me desconsertado
Vida prolixa jogada ao mar, no lixo que boia
Sabe sobre essas minhas vestes poéticas?
Elas murcharam feito flores nos vidros
Eles cortam as flores e colocam-nas em vidros com água
Assassinos! Vocês já a mataram!


     Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 28 de março de 2014

Paradoxo complementar

Eu sou nada
Quando o mundo quer que eu seja tudo
Eu sou tudo
Quando o mundo quer que eu seja nada.

       Ísis Caldeira Prates

quarta-feira, 26 de março de 2014

Solilóquio

Insistir para eu não lembrar
Decepção
Decepcionante
Vazio descompensado
Dor aguda
Medo da solidão
Lugares distantes
Gélido ouvinte
Ele não me atende mais.

       Ísis Caldeira Prates

segunda-feira, 17 de março de 2014

A remotis

Essas lembranças...
Volumosas lembranças
Pouco densas
Fazem-me afundar
Em suas mistificações
Como podem ser tão enganosas
Se são minhas próprias lembranças?
Fico envolvida e banhada nesse marasmo
Disfarçado de vulcão em erupção
Perco o senso de coletividade
Então sou apenas eu
Ironicamente só, sou apenas eu
Sem mais delongas nem sufrágio
Não cavo minha cova
Nem estendo as mãos ao céu
Estou sobre a terra
Enquanto a floresta cresce por cima de mim
Fico enraizada de novo no ventre onde nasci.

            Ísis Caldeira Prates 

sábado, 15 de março de 2014

Transmissão vertical

Então nasci chorando
Mas será que era medo do mundo?
Seria o mundo meu ofensor?
Ou eu a ofensora do mundo?
O problema é que já nasci
Sendo empurrada goela abaixo
Os medos e frustrações maternos
Ah mãe, poderia me transmitir tantas coisas
Mas não seus medos e valores obsoletos
Poderia me transmitir liberdade
Ter me passado os genes que tinham asas
Mas não as suas correntes
Ah mãe, nós não somos pecadores
Somos vítimas de nós mesmos
Vítimas de sua educação opressora
Então temos vidas vazias
Somos medíocres e hipócritas
Ah mãe, o que farei com você?
O que ainda fará comigo?
Quero ser salva e quero salvar-te
Mas quem sou eu para enfrentar
A ti mãe Sociedade?

           Ísis Caldeira Prates           

quarta-feira, 12 de março de 2014

Buraco negro

Olhe, os cabelos estão mudando de cor
O caminho está banhado de reconciliações
E as flores brotaram dos terrenos pedregosos
As capacidades se evidenciaram
E os medos se transformaram em coragem
Porque eu sou ventania que percorre os polos
Perfume que viaja pelos ecos de eternidade
Corpo alado e liberto da opressão do pecado
Corpo santo de relicários eufemistas
Eu sou o tempo que me foi dado
Desbravadora da realidade vivida
Eu sou o produto de minhas lembranças
No universo eu sou o paralelo entre
Início, meio e fim.
 
  Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 11 de março de 2014

Mãos ao alto, cueca e calcinha no chão

Posso te contar uns segredos
No pé do ouvido?
Posso morder também?
E falar besteiras que você gosta?
Deixa eu tirar sua roupa
Morder sua boca
E me encaixar em você
Deixa eu tirar sua cueca
E engolir todo o seu prazer
Posso tocar o céu e o chão a noite inteira
Sentir sua respiração ofegante e suas mãos viajantes
Bonito mesmo é ver você gozar para mim
Nós dois suados e despidos
Nesse nosso universo particular sem fim.

    
             Ísis Caldeira Prates

domingo, 9 de março de 2014

Em vida

É nele que eu me entrego
Entrego tudo de mim
Todas as minhas utopias
e sentimentalismos
Todas as minhas hipérboles
e eufemismos
Minhas observações
e necessidades
Minhas luzes e escuridões
Eu me entrego porque sou viva
Depois de morta ele não há de me querer

                
             Ísis Caldeira Prates

sábado, 8 de março de 2014

Amor horizontal versificado

Meu coração acelera quando você me procura
Meu sorriso se abre em flor
Desabrocha margarida rabiscada de amor
Você me dá borboletas no estômago
Pernas bambas e arrepios noturnos
Meu corpo sente falta do teu calor
Seu cheiro torturante que me prende a você
Ah como eu queria você perto todos os dias
Beijos e mais beijos
Carinhos e mais carícias
Abraços e mais afagos
Fogo e mais fogueira
Você e uma cama inteira
Versos escritos com o calor do nosso amor.

   
          Ísis Caldeira Prates

segunda-feira, 3 de março de 2014

Não estou sentindo, estou prevendo

Crueldade essa de amar sozinha
De querer sozinha e sem mais
Gostava dele como a brisa
Que balançava meus cabelos
E minha alma
No entanto não sabia
Que ele era passageiro
Eu, objeto fugaz

          Ísis Caldeira Prates

Eu te escrevi muito não foi?

Eu o vi com metáforas
Com gritos silenciosos de amor
Sufoquei tantas incertezas
Tantas medidas de clareza
Eu quis omitir certos aspectos
Os mais importantes, mais que detalhes
Retalhos vazios da procura por ti
Te querer demais foi um erro
Me entregar foi castigo
Castigo eterno da mal-amada
Antes só, antes serena
Quem me dera voltar atrás
E fazer tudo igual
Porém, com alguém que me amasse
Mais que você amou
E se amou...

          Ísis Caldeira Prates