sábado, 29 de novembro de 2014

Eu vou dançar com o eterno

Às vezes me passa pela cabeça
Uma vontade de ser eu mesma
De rir com os palhaços da praça
De usar minhas roupas batidas
De conhecer o mundo onde as pessoas vivem
A beleza é imponente
Chamativa, extravagante
Tem sempre holofotes 
Brilhos e capas
Eu quero os brilhos de boas lembranças
De me sentar num bar de esquina
E ver gente real
Gente que muda a gente
Gente sensível e humana
Eu quero essa gente estranha
Essa gente doida
Essa gente "old" 
E não "vintage"
Já chega de restaurantes caros
Lojas de marca
E gente vazia, interesseira e egocêntrica
Já chega de gente famosinha
De gente badalada
Eu quero poesia desconhecida
Rock alternativo
Histórias de viagens improvisadas
De vergonhas hilárias
De namorados sem um tostão furado
Mas que são gente como a gente 
Gente normal, anormal
Mas gente livre
Eles riem de nós porque não têm coragem
Se assumir é ter muita coragem
Porque até a liberdade é rotulada
E a legalidade material me assusta
Eu não preciso de um armário cheio de roupas
E preciso de um caminho cheio de sonhos
Porque a beleza do corpo acaba, envelhece
Mas a beleza de uma alma livre ecoa pelas
danças da eternidade.


               Ísis Caldeira Prates


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Escrava alforriada

Ele disse: senta.
Sentei
Ele disse: quero ver suas pernas
Mostrei
Ele disse: é uma bela vista
Virei o rosto e me inclinei
Ele disse: está me provocando?
Dei um sorriso malicioso
Estávamos numa penumbra
Ele se levantou e disse:
Vai ser minha hoje?
Eu disse: não
E beijei.

Ísis Caldeira Prates  



quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Sou apenas um homem

Eu errei com você inúmeras vezes
Te fiz sentir sozinha 
Quando você apenas queria amor
Mas eu sempre fui estúpido 
Comigo e com as pessoas
Eu sempre fui solitário e vazio
E você sempre estava lá
Mesmo com meus ataques de fúria
Meus ataques depressivos
Minhas loucuras
Mesmo com minha inconstância
E minha indiferença
Você estava lá 
Com aqueles olhos apavorados
Eu sentia que você apenas se perguntava
Por que estava ali
Eu te fiz chorar 
Várias vezes 
Eu não me importei
Porque eu era o bastante para mim
Achava que era
Te ter foi egoísmo 
Foi crueldade
No dia que você se foi
Meus muros simplesmente caíram
Era como se eu fosse um menino perdido da mãe
Eu te procurei em todos os espaços da casa
Mas não tinha nada seu ali
Eu não deixei que tivesse
Eu preciso me confessar
Mas como? Eu nem sei amar
Eu não sei te ligar
Eu não sei te chamar
Eu não sei seu nome
Você esteve ao meu lado esse tempo todo
E eu não sei seu nome
Eu não sei dos seus sonhos
Não sei quem você é
Me desculpe
Estou chorando sozinho no quarto, no banheiro
Como você chorava por mim
Eu só queria te conhecer de verdade
E não te mostrar esse merda que eu sou
Eu te machuquei, eu sei
Mas não tanto quanto a mim agora
Eu tento pensar que não te perdi
Mas eu continuo deixando você ir
Sou um covarde!
Você nunca vai saber que eu te amo
Nem eu sabia
Mas a verdade é essa
Sinto saber que outros também vão te machucar
Preciso confessar
Sou apenas um homem.


Ísis Caldeira Prates 



sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O céu não é mais o limite

Eu estive uma bagunça por esses tempos
Dias arrastados de desordem sem fim
Mas hoje eu acordei 
Como quem acorda para ser feliz
Como quem diz sim para a vida
Eu acordei cedo e sorri para mim no espelho
Eu estava linda
O mundo estava lindo
Acordei com o amor entrando pela sola dos pés 
Fazendo cócegas para eu rir
Eu acordei tão confiante 
Quanto os pássaros que nascem
já sabendo que podem voar.

Ísis Caldeira Prates