quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Chamem pequeninos! Alguém há de escutá-los...

Água pouca ou quase nada
Comida rala e enlameada
Seios secos, leite roubado
Crianças que choram
Na esperança de um afago
O Senhor do mundo rouba-os
O Senhor desalmado acusa-os
Esquecidos no tempo
Histórias tristes e solitárias
Eles já não pedem mais
Suas palavras perdem-se
Perante o Senhor
O Senhor dos abastados
Continua à comandá-los
E os miúdos pequeninos
São esmagados
Apesar de tudo
Vejo olhos esperançosos
Eles esperam sofridos
Pelo Senhor do céu
Se houver paraíso
Eles pedirão um abrigo
Mas cansaram-se tanto de pedir
Que apenas esperam piedade de outrem.


                            Ísis Caldeira Prates

És tudo, Bonita!

Bonita! Vem dançar comigo!
Dançar com essa saia rodada
E esses cabelos esvoaçantes
Bonita! Mostra-me seu gosto
Mostra-me seu rosto, tira esse véu
Bonita! Você é autêntica
Não se amedronte em mostrar-se
És azul celeste com gotas pretas
És amor de partida
És pura sensação
Atento-me aos seus anseios
Quero fazer-te ficar
Mas és pássaro que voa
És peixe a nadar
Sei que vai para longe
Só quero que mande-me seus endereços
Onde quer que esteja, irei te encontrar.


                              Ísis Caldeira Prates

Você deixa?

Eu quero beijar-te até meus lábios arderem
Eu quero abraçar-te até meus braços terem câimbras
Eu quero ser seu vício
Seu bem e o seu mau
Quero quebrar seus tabus
Mostrar-te as minhas leis
Quero ser seu refúgio
Seu esconderijo e seu abismo
Quero-te exposto a mim
Seu sorriso constante
Seus olhos atentos e felizes
Suas mordidas e fissuras
Eu mostro-te o céu se permitir-me
Serei suas estrelas, seu sol e sua escuridão.


                               Ísis Caldeira Prates

Ela é sonhadora! Ela é alma boa!

Oh Jesus! O que irei fazer?
Se tudo o que quero é crescer?
Caminhar por mim
Já chega de andadores
E protecionismo exacerbado
Sei que irei apanhar da vida
Mas ela existe para ser vivida
Abstratizarei meus erros
Pintarei eles em telas
Farei arte!
Para todo quadro escuro,
Um outro em sorriso
Sorriso de liberdade
Sem culpa ou silêncio em solidão
Darei cambalhotas serenas
Segurarei mãos quentes
Me desamarrarei dos pesos
De uma vida mal vivida.


                                 Ísis Caldeira Prates



Deixa ela brilhar!

Mamãe disse que era pecado
Tapei os ouvidos
Triste, sorri
Caí em mim
Escolhas minhas
Ajusto em mim
Questões diretas
Figuras sórdidas
Não fale, mamãe!
Deixa eu dizer
Deixa eu fazer
O que eu desejar
Desejo é laço
Que não se pode quebrar
Desejo é anexo
Que é salvo sem perguntar
E não tem santo que faz parar
Desejo realizado é satisfação
Prazer enjaulado é opressão!


                             Ísis Caldeira Prates

Pétala ao vento

Estrangeira, extraviada, alada

Costureira, descosturada, embriagada

Forasteira, cabocla, desalmada

Fruteira, agueira, mulata

Bandida, apaixonada, traficada

Montanhosa, cordilheira, traspassada

Belicosa, feiticeira, desgramada

Mulher, amante, estabelecida

Forte, frágil, amor

Beleza viciada, recorte fatal, charme visceral.


                                            Ísis Caldeira Prates

Quem matou-te Lola?

-Acorda Lola! Temos que sair! Temos um mundo para explorar! Somos aventureiras esqueceu?

-Sim, esqueci. Aliás, o que é "aventureiras"?


                               Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Eu quero ser a ovelha negra

Estou tentando me convencer
De que eu posso ser quem eu quiser
Mas não é tão simples
Em um minuto eu sou ovelha desgarrada
No outro eu sou a doce e recatada moça
Sufoca-me todo esse pudor que nos é passado
Amarra-me no mesmo lugar
Quando tudo que eu quero é sair
E experienciar a vida
Existe uma falsa liberdade de nossos corpos
No fundo, estamos presos aos velhos conceitos
Ainda temos tribunais da aquisição
E as bruxas ainda são queimadas nas fogueiras
Nossos desejos são filtrados
E nós nos sentimos incapazes
Sem saber o por quê
Eu sei que estou amarrada
Mas não consigo me soltar totalmente
No máximo, uma mão na fechadura
Da cela da prisão.

                      Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Já chega de borboletas mortas

Destoa-me esse defeito de acreditar
Às vezes queria ser fria
Distante e desapegada
Porque eu sempre tropeço no fim
Tropeço e dou de cara no chão
E demoro a me levantar
Prefiro ficar deitada
Porque levantar implica
Na possibilidade de cair de novo
E de tantas quedas
Já estou meio torta
Ossos que colaram errado
Feridas que infeccionaram
Pontos que soltaram
Típico saco de pancadas
Mas eu sei, a culpa é minha
Sou eu que deixo tudo isso
Sou eu a boba
Sou eu a avoada
Que se entrega de vez
"Bobagem... O tempo cura"
Cura não, porque não curou essa sua hipocrisia.

                     Ísis Caldeira Prates

                        
     
                    
                        

Por entre nossos corpos errantes

São armas e rosas em nossas mãos
Vivemos em uma guerra infernal
Iludidos por uma paixão áspera
Precisamos de um pouco de sal
Diabéticos por natureza
O doce passa de leve
Seu gosto azedo em minha boca
Faz-me querer mais
Somos contrários à etiqueta
Cotovelos à mesa
Olhos secos de discórdia atemporal
Misturo-me a você, como carne e sal
Cometemos assim canibalismo
Deixamos marcas de abismos
Nossa virtude, meras frases banais
Preciso de todo esse fel
Quase doente por querer
Você me desespera
Mas não se cansa de me ver
Abraço-te entre unhas
E sangro-te no fim
Seus olhos tristes ainda assim pedem por mim.


                            Ísis Caldeira Prates

Andarilha

Ponho meus braços à sua volta
Meu coração rebelde quer expulsar-te
Mas meu corpo pede você
Invento desculpas para ficar
Blindo meus olhos aos seus erros
Estou trapaceando comigo mesma
Eu não me importo, se tua boca estiver na minha
Um dia você me pediu para ficar
Esse seu charme proibido queima meu ego
Preciso experimentar-te
Eu sei que caminho por labirintos
Mas meus caminhos são seus
E até que me devolva
Eu caminharei por cada ponto seu
Desfrutarei de cada viagem
À pé, descalça, despida
Do jeito que for...
Mas que seja!


                          Ísis Caldeira Prates

Bicos colados

Eu escolhi ficar no seu ninho
E não adianta que outros passarinhos
Tentem me convencer à bater minhas asas
E ir embora
E vou ficar, esse é o meu ninho agora
Se for para voar, que voemos juntos
Incrível seria planar com você
Debaixo do arco-íris ao sol
Deixar o vento percorrer nossas asas
Eu vejo pássaros indo para o sul
Eles creem que tem liberdade
Mas livre sou eu, somos nós
Escolhemos permanecer juntos
Então nos libertamos do medo de sermos felizes.


                               Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Apreciadora da liberdade coagida pela educação

Quebraram minhas asas
E eu não posso mais tocar o céu
Minha mente não é tão brilhante
A ponto de criar invenções
Deito-me na terra e aprecio a imensidão
Não só quebraram minhas asas
Mas tiraram a minha imaginação.

                         Ísis Caldeira Prates

Náufragos

Pouco pão, para muita alma
Muita alma, para pouco espaço
Muitos espaços vazios, para poucos corpos
E tudo vai sumindo, vai perecendo
E tudo vai se perdendo nos ecos
Nas ondas, na poesia, no caos
Aprontem-se marinheiros!
O navio já vai sair
Pode ser que não voltemos
Dos perigos do alto mar.


                          Ísis Caldeira Prates


Aventureiros no portão

Ah meu bem,
As minhas portas sempre estarão abertas
E as pessoas poderão sempre transitar
Prefiro sentir as dores da partida
Do que fechar as portas para os sentimentos

Porque eu sei que um dia alguém pode gostar de ficar
E justamente porque as portas estão abertas
Não é prisão, mas um coração aberto
Com muito amor para doar.

                         Ísis Caldeira Prates

Inundação

Vejo relâmpagos no céu
Lá vem as nuvens cinzas
Que escurecem meu ser
A chuva começa como neblina
Depois vem a tempestade
O furacão
E eu no meio sem abrigo
Sem uma marquise
Para eu não me molhar
Não tem jeito
Eu sempre me molho
A água sempre vem
São minhas próprias lágrimas
E soluços, meu bem
Talvez um dia eu seque
Mas esse é meu maior medo
Não ter mais água para me lavar.

                       Ísis Caldeira Prates

Levou de mim

Então a vida me tirou muitas coisas
Coisas que eu não queria devolver
Coisas que eu nem aproveitei
Coisas que eu nem provei
A vida quis me ensinar
Que nada é nosso
Tudo é da vida
E quando ela resolve levar
Ah... Tenha certeza de que vai doer.

                     Ísis Caldeira Prates

sábado, 19 de outubro de 2013

Catastrófica

Entende minhas palavras?
E as embutidas?
Entende tudo o que há em mim?
Já viu todo lixo debaixo do tapete?
E os sacos de lágrimas no portão?
Cuidado quando achar que me tem
Porque eu sou estrela distante
Meu brilho é belo
Mas um dia eu explodo
E os estilhaços te atingirão
Não com crueldade
Mas sentirá saudade
Até de todo o meu lixão.

                 Ísis Caldeira Prates

Ah, eu sabia...

Nestas noites silenciosas
Fico pensando
Até onde posso perder-me
Até onde vão os riscos
Mas eu tenho vontade de ficar
Imagino por bem e por mau
Minha mente alerta
O que meu coração abafa
Meus sentimentos são indeterminados
Frágeis cristais em pó
Não quero que o vento leve outra vez
Mas eu continuo criando armadilhas
E meu maior erro sempre será gostar de ficar.

                      Ísis Caldeira Prates

Que venham os dias ensolarados

Esse silêncio me agride
Vem como um cataclisma
Muda minhas opiniões
Desajusta o desajustado
Esconde meu desejo

Cabe muito em mim ainda
Cabe quase nada
Cabe o mundo em mim ainda
Cabe apenas minha estrada

Ah, alma mal amada
Castiga minhas vistas
Deixa-me transtornada

Caminharei mais um cadinho
Até meus pés se cansarem
Buscarei mais um pouquinho
Até que todas as lágrimas
Sejam enxugadas

                         Ísis Caldeira Prates

A cada batida

Coração é traiçoeiro
Bate e te engana que você está vivo
Bombeia vida encharcada de toxinas
Nas veias
Desperdiça energia
Dá pane quando você mais precisa
Coração é traiçoeiro
Se vinga e causa infarto
Te deixa sem ar
Coração te tira a vida
E te entrega ao medo de amar.

                      Ísis Caldeira Prates

De janeiro a janeiro

Esperarei seus passos na areia
Às vezes atrapalhados
Esperarei seus cabelos dourados
Esperarei seus lábios cheios de súplica
Esperarei seus abraços
Seus laços, apertos e respirações
Esperarei sua busca, seus afagos
Toda a sua doçura
Cobertos por doce amargo de distância
Corpos que se procuram por aí
Esperarei seus defeitos, sua loucura
Esperarei seus orgulhos e egoísmos
Esperarei até seus vazios
Esperarei tudo
Você e mais você
Esperarei até te ver
Então, esperarei te ter
O que será depois?
Ah meu bem, espera para ver.

                               Ísis Caldeira Prates

                          

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Dama da noite

Deitada em sua cama
Tão solteira como ela
Despida e solta
Natural em natureza
Curvas que levam
A caminhos obsoletos
À espera de aventureiros
Faminta de emoções
De sorrisos às cegas
Porque enxergar demais cansa
Enjoa
Seus labirintos são eternos
Curvas sem pudor
Sem dimensão
Curvas que perdem-se de vista no espaço
Pés descalços e mãos livres
Liberdade alcançada
E apreciada por ela
Cada instante uma renúncia
Cada escolha uma vida
Cada toque um arrepio
Vibrações que movem uma nação
Seu som roda o mundo
Ela é e não é
Ela está e não está
Entrega e recompensa
Ela é transviada
Ela é bandida
Ela é liberdade vivida.

                               Ísis Caldeira Prates

                                     




Mais uma na roda

Quis pintar as telas em branco
Mas apenas fiz rabiscos
Algumas ondas, alguns círculos
Tantos nadas e vazios
Buracos negros sugando vida
No centro sem ponto
Vírgulas e vírgulas
Telas desambientadas
Telas frias
Ah, pintarei com sangue
E ficará pintado com tudo que há em mim
Meu DNA explícito
Tão artístico e excêntrico
Adoradora da arte sombria
Barroca simbolista
Ou apenas poeta
Poeta de apartamento
Poeta por abuso
Poeta da vida
O que vi dela ninguém cura.

                               Ísis Caldeira Prates

Entregue aos seus caprichos

Acendi meu último cigarro
E ela se foi
Minha última tragada
Como nossa última noite
Eu sabia que ela não voltaria
Não para os meus braços excluídos
Não sei de onde ela veio
Tão pouco onde a perdi
Só sei que ela era única
Marcante, sensual como ninguém era
A mulher dos sonhos
Que escorreu pelas minhas mãos
Que beijou minha boca e partiu
Pela primeira vez na vida
Encontrei uma mulher fria e calculista
Pôs-me de quatro
Amarrou-me em sua cama
E saiu sorrindo.

                                Ísis Caldeira Prates

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Sobre ele e dele

Ele não é igual ou diferente
Não comparo ele com ninguém
Ele é apenas ele
Exatamente ele
E é assim que ele me faz bem
Acho divertido seu gosto tradicional
E suas teses de vida
É encantador enquanto amante
E atraente em suas palavras
Ele não é cobrador de sentimentos
Ele não é tão sentimental
É natural
Mas é protetor
Ele ainda tem um ar de menino
E se acha bobão
Às vezes me pergunto
Onde ele me viu
Aliás, onde ele me enxergou
Porque de mim ele consegue extrair quase tudo
Mesmo que às vezes inseguro de si
Não sabe ele da minha inconstância
Da minha alma medrosa
Dos meus defeitos e afins
Preocupação não combina com ele
E é isso que me liga assim
Não temos rótulos ou nomes
Nem amor que consome
Ele se recria pra mim
Ele gosta dos meus detalhes
Tudo incluso
E é isso que me faz ficar
Ele me deixa à vontade
Com ele eu sou quem eu sou
Eu gosto do nosso imprevisível
Nada certo, sem porém
Nada de eterno, tudo em instantes
Marcados por cafés quentes.

  
                                 Ísis Caldeira Prates
           

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Ela é insubstituível

Já tive fase
De me sentir feia
De olhar no espelho e ficar deprimida
Já tive fase de me sentir só
Como se ninguém fosse me amar
Já tive fase de insegurança
De drama, de chatice
Já tive fase de me preocupar com tudo
Com os outros, com o mundo
Já tive fase de me achar desinteressante
Invisível, sem graça
Já tive fase de não me achar boa o bastante
Hoje minha fase chama-se: "me amo"
Sem medo de me amar
Sem medo de me testar
Sem medo de me sentir mulher
Minha liberdade eu mesma faço
Os outros são os outros
Minha essência é belíssima
Não é do mundo, é minha
Hoje eu não tenho medo de mim
Não tenho medo do viver
Não tenho medo de amadurecer
Hoje eu me tenho
Eu me agrado
Eu me faço insubstituível
Hoje eu vejo a sorte do cara que me amar
E que saberá me manter com ele
Porque uma mulher como eu
Não se encontra na Terra, mas em outro planeta

                                 Ísis Caldeira Prates

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Por entre minhas paredes

Eu quero me entregar aos seus braços
Deitar na sua cama e sorrir para você
Quero fechar meus olhos
Sentindo você por inteiro
E suas carícias intensas
Quero acordar com o sol nas cortinas
Não quero mais sentir-me sozinha
Então esteja lá quando eu acordar
Não sei viver de saudade
Minha carência não pode ser alimentada
Quero seus olhos perdidos nos meus
Entre nossos sorrisos inocentes
Mantenha-me intacta
Não deixe que a chuva faça rachaduras
Ou que nos desgaste
Quero ficar alerta
Com os sentidos profundos em ti
Quero-te por todos os lados da casa
Passeando descalço
Descontraído
Sem vergonha de mim
Vamos rir das minhas piadas bobas
E dançar juntos pela sala
Tudo bem, eu posso te ensinar
Vou permitir-me dessa vez
Não estou com medo de errar
Engraçado como eu quebrei minhas regras
Só para poder te encontrar
As tardes vazias não virão ao meu lar.

                                   Ísis Caldeira Prates

domingo, 13 de outubro de 2013

As três palavras

Se eu te chamar você vem?
Eu te tenho e você me tem também?
O que passa dentro de nós?
O que passa entre nós?
Já tem um tempo que me pergunto
Devo continuar? Devo me apegar?
Porque não quero chuva de verão
Quero o calor do sol
E todas as suas roupas no chão
Eu não sei ser mais ou menos
Meu defeito
E agora Deus?
Eu tô mais que avoada
Eu tô mais que distraída
Meus pensamentos longe
E até quem me vê passar na rua
Sabe que eu tô na sua
Ó céus! O que há de ser?
Se os caminhos me levam a você
E tudo que vejo e ouço me lembra você
Eu nunca fui muito boa com essas coisas de gostar
Meu cupido sempre foi meio tonto
Mas parece que você caiu do céu
Só tem seu nome no meu papel
E agora Deus?
Eu quero falar pra ele
Mas falar o que?
E cadê minha coragem?
Ah, que poeta que não sabe se expressar?
Quero dizer aquelas palavras
Mas e ele? O que ele vai pensar?
Eu falo ou me calo?
Ah, mas que boba!
Eu acho que desaprendi a amar...

       
                            Ísis Caldeira Prates

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Defeito noturno

A noite atrai todos os fatos
Todas as memórias e angústias
Quando fecho as cortinas
Parece que fecho-me também
No meu próprio mundo
Às vezes ele me pergunta
O por quê que eu durmo tarde
Eu invento qualquer coisa
Mas é que eu não consigo dormir
Com tantos pensamentos
E aflições em minha cabeça
De dia as pessoas fazem-me companhia
Mas à noite, estou só
Defronte para mim
Não tenho mais para onde correr
Quem dirá para os seus braços
Até meu choro é solitário
Noite fria, noite bandida
Rouba-me a esperança
E me cala na manhã vazia.
                          
                        Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Desencarnada

Descalça, um passo após o outro
Escuro, intocável
Ouço o barulho dos grilhões
Procuro a chave entre os vultos
Tem algo que me perturba
Ando como um sonar
As imagens não me são estranhas
Estou no passado, presente e futuro
Em todos os lugares, ecoando pela eternidade
Repito falas e ações, acordo em uma ilha deserta
Sem memória
Recomeço, mas ainda perturbada
Meus olhos vermelhos, insônia
Não há medo, mas ausência
Espaços vagos que não se ligam
Os segredos não me revelam
Há um peso em minha mente
Um martelo que bate no mesmo prego
Vejo os que não estão, sinto os que vão
Estou na linha entre os dois mundos
Eu não sou como eles
E não me conhecerão, eles não me conhecerão.


                                 Ísis Caldeira Prates

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Suas asas me levam ao paraíso

Anjo, quero te contar umas coisas
Fez-me experienciar as mais belas sensações
Percorreu em mim o mundo
Agitou meu caos e revirou minha razão
Fez-me segura, capaz de explorar-me
Sinto-me inteira e infinita
Agora nossos pensamentos ecoam pelo paraíso
Nosso secreto lar
Envolveu-me em ardências e levezas
Quero despi-lo de corpo e alma
Exaltada por suas lindas mãos
Seus lábios como um abrigo me revivem
E me matam quando me deixam
Quero ocupar seus espaços e te deitar no chão
Talvez olhemos  para as estrelas e apreciaremos a escuridão
Nossas roupas amassadas como sinônimo de perdão
Posso morar no teu sorriso e fazer-te feliz
Por enquanto, só ouço o som de nossa respiração
Quero você o quanto você me queira
E não espero recompensas
O futuro não nos pertence
Mas o meu presente eu quero que seja com você
Me leve de volta ao paraíso, Anjo.

                               Ísis Caldeira Prates

sábado, 5 de outubro de 2013

Efeitos colaterais

Não quero lhe falar
Sobre a minha esquizofrenia crônica
Porque eu vou e volto no fim
Porque eu começo a prever dores
E esqueço os amores que me doeram
Minhas lembranças por vezes são esquecidas
No espaço há sombras e vozes
Apertos de mãos vazias
Escadas que descem
Eu perco os sentidos e flutuo
Em uma água fria
Chego a ter dormência
Então transformo-me em poesia
Faço da minha insanidade a minha arte
Porque meus papéis vieram de árvores
E eu vim de uma sinfonia.


                           Ísis Caldeira Prates

Súbita

Meus versos me distanciam do caos
Meu eterno caos, meu ócio
Escrevo meus detalhes
Meus críticos detalhes
Mostro-me forte e frágil
Em instantes fugazes
Apaixono-me por fim
Por líquidos desformados
Um sentimento intelectual
Metamorfizado pelas lágrimas
Minhas paredes descascam sua tinta
E eu pinto-as todos os dias
Ultimamente elas tem sido pintadas
Não por mim.


                             Ísis Caldeira Prates

Simbólica

As minhas asas angelicais me levaram ao céu
Voaram penas alvas e sutis
No meu delicado sonho juvenil
Encontrei cores mádidas
Distúrbio fluido e claro
Nobres são as noites alucinógenas
Transcendo minha fonte
Onde giram  luzes fortes
Apazíguo meu inconsciente
Delibero minha essência
Poeira cósmica transcendente
Faço uma viajem ao hiperespaço
Viajem sem volta
Acordo calada.

                                 Ísis Caldeira Prates

 

Quero te ver

Já fiz tanta poesia hoje
Tanto rascunho na lata de lixo
E eu ainda não sei o que escrever para você
Só sei que o que eu estou sentindo é saudade
Está deixando-me maluca não te ver
Porque é como se você saísse todos os dias
E não tivesse como voltar para mim
E mesmo que nós nos falamos
Ainda não preenche-me os espaços vazios.


                               Ísis Caldeira Prates

Siga-me

O vento brinca com os cabelos dela
E espalha seu perfume suave e autêntico
Ela acredita na intensidade de seus atos
E na leveza de suas confissões
Porque para tudo na vida tem que ter preliminares
Tudo deve ser aproveitado
Nada melhor que perder a hora
Em momentos bons
Nada melhor que um olhar de cumplicidade
E um sorriso inocente
Nada melhor que auto-conhecimento
E amor próprio
Nada melhor que frio na barriga
E abraços que fazem fechar os olhos
Nada melhor que saudade retribuída
Que amor bem amado
Que tristezas consoladas
E pranto acalentado
Nada melhor que valores bem construídos
E fidelidade aos sentimentos
Nada melhor do que ter alguém que é o seu melhor.

                            Ísis Caldeira Prates

Para eles...

Eu sou uma jogadora nata
Quando ver os meus olhos inflamados
Não faça hora ou charminho
Se te dou sinal verde, avance
Não tenho um tempo infinito
Toda mulher tem seus desejos sórdidos
Toda mulher gosta de ser bem saciada
Também gostamos de encontros casuais
E de sensações censuráveis

Não tem desculpas se realmente queremos
E existe sim, mulher que sabe diferenciar
Amor de desejo
Não tornem-se repulsivos, mas atrativos
Nada mais excitante do que um homem
Que sabe como balancear delicadeza e pegada

Mãos dadas não significa compromisso
Homem que tem medo de compromisso
É inseguro
Mulheres também entendem da arte do desapego
Nada mais maçante do que uma mulher chiclete
Mas nada mais terrível do que uma mulher insensível.

                                       Ísis Caldeira Prates






sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A pele dos gladiadores

Visto minha pele hoje
Uma armadura
Com marcas de batalha
Estou cansada dessa mesma roupa
Então eu maqueio as marcas que não quero ver
Os outros também não veem
Uma estupidez a minha
Eles não veem, por isso machucam-me outra vez.

                   Ísis Caldeira Prates

Conversando com a dor

Frente a frente com ela
Não pude me conter
Perguntei o por quê das visitas frequentes
Ela me olhou fria
Parecia me achar idiota
E me disse por fim
"Eu não te visito, está é a minha casa".

                   Ísis Caldeira Prates

O tempo dos velhos

O tempo passou
E por vezes deixou-me iludida
O tempo me deu fome
Deixou-me em outro mundo
O tempo tirou-me o instinto
E deu-me a razão
Assim, mentiu mais uma vez
Porque eu caí em contradição
O tempo fez-me procurar outros lares
Lares estes, nada sãos
Embriagada por golpes sujos
Esmaguei minha exatidão
O tempo não curou nada
Fiquei velha, fiquei louca
Casualmente eu me deito no chão.

                                 Ísis Caldeira Prates

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Quero você agora

Hoje eu queria escrever alguma coisa sobre nós dois
Qualquer coisa... Contanto que me lembre você
Mesmo que ainda estejamos meio perdidos
Mesmo que ainda não saibamos o que temos
Eu queria falar sobre você hoje
Porque me faz sorrir ouvir teu nome
E lembrar teu beijo
Me faz bem suas palavras quando nos falamos
Anseio ver-te outra vez

Não sei se devo sentir-me assim
Mas já dizem as poesias
"Deixe sentir, deixe amar, deixe ficar"
Senão for, não foi
E se for, aceito a companhia
Que tal um café quente?

                               Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Ensaios de destruição

Eu sou a mãe árvore
E posso ouvir um novo choro
Um humano que nasce
Por que eles nascem chorando?
Talvez porque desde cedo já sabem que serão maus

As minhas folhas estão secando
A minha floresta está sombria
Nós sentimos frio nos espaços vagos
O vento solta um gemido de tristeza
Nossas crias estão morrendo
Enquanto mais humanos estão nascendo

Eles cobrem-se com nossas peles
Comem o nosso alimento e não dividem
Eles torturam-nos e sentem prazer com isso
E nós não mais sabemos como nos defender

Quando olho para os rios, não mais vejo água
Mas sangue de inocentes
A ganância nos olhos humanos nos assusta
As mães selvagens não tem mais onde esconder seus filhotes

A mãe Natureza já está cansada de adverti-los
Os humanos esqueceram suas origens
Filhos pródigos e inconsequentes
Eles matam-nos, porém esqueceram
Que também estão matando a si mesmos

Ainda assim, oramos ao Pai todas as noites
E pedimos que Deus perdoe-os
Não queremos que eles morram
Não queremos morrer...

                               Ísis Caldeira Prates