terça-feira, 27 de maio de 2014

Violentada

Eu tentei fechar meus olhos para sentir a brisa em volta de mim
Mas eu não pude fechá-los
Eu estava incrustada na realidade
Engaiolada nos ressentimentos mundanos
Eu tinha uma pequena percepção de mim mesma
Sentia-me como um trabalhador que trabalhava 14 horas por dia
E nada fazia contra o sistema perverso
Eu estava sendo espancada pelos egos ferozes
E as escoriações se difundiam pela minha pele
Eles não entendiam minha poesia
E eu ficava cada vez mais insana e medíocre
Tão quanto eles
A cada dia mais sem escrúpulos, sem coragem e devastada
Comecei a sugar as obscenidades desalmadas
Os socos deixavam hematomas expostos
Os agressores me violentavam
E eu me confortava neles
Estava doentia
Com distúrbios analíticos
Sedenta por me afogar ainda mais no meu inferno astral
Meus olhos já me escondiam
E eu quebrava os espelhos de minha casa
Sempre entendi a mentira que emanava das paredes
Mas não tinha força para fugir de mim
Despoetizei-me e me industrializei
O mundo tapava minha boca e me agredia por entre as pernas.


     Ísis Caldeira Prates


                           Pintura Hiperrealista de Amanda Joseph


sábado, 24 de maio de 2014

Amor em 4 atos

Primeiro ato:
Beijar sua melancolia e morder seus vazios
Segundo ato:
Lamber sua agonia e molhar suas abstinências
Terceiro ato:
Sugar seus abismos e deslizar por suas aflições
Quarto ato:
Fazer jorrar sua carência e derramar sua censura no chão.
     
               Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Poeta que me versifica

Porque você moço,
É do tipo que faz o céu brilhar mais perto
Tem uma alma distinta dos andarilhos errantes
Tem os olhos negros feito o hiperespaço
Gosto da tua poesia suave
E da tua boca bonita
Sinto que você tem braços que abraçam em efeitos sonoros
Tens um coração pedinte, daqueles que escondem seu encanto
Ah moço, adoraria mergulhar em suas águas turbulentas
Despertar suas dores e curá-las
És sinfonia que fala ao meu ouvido
Que me treme o corpo e arrepia a pele quando escreve versos de amor
Pode pedir minha boca em seu corpo faminto
Eu desdobrarei suas curvas poéticas
E aquecerei seus instintos
Vorazes almas que se cruzam por poesia
Olhos profundos com raios de aurora
Mostra-me teus desejos e eu te mostro meus paraísos estelares
Somos intensos e patológicos
Talvez complementares
Me explora mais um pouco
E eu te dou a liberdade de estar ao meu lado.



               Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 13 de maio de 2014

Inscrita

Meu amor está saindo pelos meus poros
Eu nunca tocarei um ser sem deixar nele um pedaço meu
Não consigo deixar que saia sem levar meu perfume
Não admito não despertar as almas que toco
Eu preciso ser infinita em tuas lembranças
Estar fixada em seu cosmo psicológico
Eu preciso me doar
Preciso preencher seus vazios
Eu tenho a necessidade de inundar meus cúmplices
E salvá-los do afogamento
Eu preciso ser seu paradoxo
Aquela incógnita cíclica que não tem fim
Eu preciso que me procure
Por desejo ou curiosidade
Se eu te deixar entrar
Aprenda a tocar minha sinfonia
Meu corpo é um instrumento que toca melodias melancólicas de amor.

          Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Eu beijo tua boca para satisfazer minhas anomalias sentimentais, eu te procuro no céu da tua boca, no qual há um infinito de estrelas alucinógenas. Eu te perturbo como um vício, invado e violo suas veias feito heroína, sinto o teu gosto que se alinha aos meus distúrbios. Você sente meu âmago explosivo, que tortura suas carências e eu te bebo inteiro e você me transborda. Nosso beijo tem troca de insanidades e eu entendo suas necessidades. Eu mordo teus lábios porque a dor é solidária.

Ísis Caldeira Prates



sexta-feira, 2 de maio de 2014

Prolixa verbalizada

Olhando da janela a rua monótona
Percebo almas obsoletas
Sozinhas
E da janela vejo meu reflexo
Me sinto melhor por não ser como eles
A vida comum se faz com banalidades
Mas a minha não
Carrego meus distúrbios, vícios, indecências
Tenho pensamentos sujos e como tenho
Sou paranoica, doida
Mas tenho uma alma completamente mágica
Daquelas que não se esquece
Não há mentira no meu desejo
Nem nas minhas vontades
Gosto do desalinhado, do estranho
Eu gosto mesmo é do estrago
Dos sorrisos maliciosos
Dos beijos com entrega
Eu gosto do meu corpo e da minha sensualidade
Eu gosto de mim, dos meus anseios
Das minhas inundações e regenerações
Eu aprendi a ter asas para pular dos meus abismos
E voar o mais alto que eu puder
Tenho meus inúmeros dias de escuridão
Mas minha solidão é permanente
Ela me ensinou a ser minha
E a ser como eu sou
Eu sou um continente fragmentado
Carrego em mim todos os meus preconceitos e condutas
É claro que sempre estou em guerra
Sempre estou no meio da guerra entre a virtude e o imoral.
      

              Ísis Caldeira Prates

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O tempo e o vento

Sinto a sensibilidade nesses meus passos frios
Que abordam minhas necessidades
Sinto que estou envolvida em um nevoeiro
De lembranças sonâmbulas
O vento que passa entre meus cabelos
Parece levar os anos, os dias, as noites
Carrega a beleza corpórea
Leva de mim toda a minha parte carnal
Mas os desejos e os sonhos ficam
Esses, nem o vento, nem o tempo e nem a morte hão de levar.

         Ísis Caldeira Prates