sábado, 31 de agosto de 2013

Sinto muito...

Estou andando pela chuva
Sim, está chovendo
Sinto o balançar das folhas das árvores
O vento sopra
Acudam-me
Estou andando sem rumo
Só sei que sinto minhas mãos suadas
Estou sufocada
Não consigo calar essas vozes
E as sombras aproximam-se
Meus olhos tão profundos
Nunca ficam rasos
O fogo ainda revive
Escuto minhas transparências
Talvez alguém ainda me veja
Por trás do espelho
Disfarcei as dívidas
Mas o mar sempre se agita
Persuadida pelo tempo
Devolvo-me a mim
Não me importo de não ver o sol
Contanto que eu sinta a luz.

                     Ísis Caldeira Prates

                                 
                         

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Monólogos

Tiro minhas roupas
Abro o box
Giro o registro lentamente
E a água cai sobre mim
Minha alma pede
Que essa água lave
Todos os meus problemas
Mas sei que não
Então eu choro
Como uma criança em desespero
Como uma criança que se perdeu da mãe
Eu choro alto por dentro
Mas baixo por fora
Ninguém escuta meu choro
Só eu e Deus
Nós dois a sós
Penso em minha vida
Um instante realista
Mato-me aos poucos
A dor me consola
Até esta se comoveu
Minhas lágrimas misturam-se
Com a água que cai do chuveiro
Já não sei se é meu choro
Ou se é a água que cai por inteiro.

                     Ísis Caldeira Prates

Engulo-me

Saia e feche a porta
Quero ficar sozinha
Deixe-me em meu quarto
Meu esconderijo
Queria dormir por alguns anos
Queria acordar adulta
Para quem sabe não ser tão boba
Talvez até menos sonhadora
E mais resolvida
Queria pensar mais em mim
Queria ser mais corajosa
Estou perdida
E com vontade de ir embora
Para longe de mim
Sinto-me nua, crua por dentro
Sinto-me um fantoche dos outros
Parem de brincar com meu coração
Eu não sou brinquedo
Eu não sou um parque de diversão
Sim, estou triste
Estou cansada
Não sei onde vou
Só sei que não quero
Acabar em um bar dizendo
"Mais uma, por favor"

                   Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Reflexos dele

Onde estamos indo?
Eu perguntei para ele
Porque seus olhos estavam indecifráveis
Onde estamos indo?
Ele não segurava minha mão
Mas havia outra coisa que nos atraia
E me mantinha perto seguindo-o
Onde estamos indo?
Eu não conseguia reconhecer o caminho
Acho que nunca tinha ido ali antes
Ele me levava sério
Às vezes olhava para mim
Onde estamos indo?
Eu queria ir, mas algo em mim sentia medo
Eu tinha que ser corajosa
Eu tinha que ir
Era o mínimo a se fazer
Era o meu destino.

                            Ísis Caldeira Prates

Eu sou a minha poesia

Poesia densa
Poesia leve
Estou tão profunda que perco-me
Clareia-me a mente inquieta
Minha dança com véus 
Bailarina imaginária
Canção de abril
Meu relicário de passos longos
Desprendem-me do vil
Eu sou poeira de marte
Amante do frio
Entrelaço-me aos meus desejos
No calor das ideias
Ideias loucas e desatentas
Acalento meu pranto 
Como quem quer amor
Pestanejo palavras minhas
Estou entregue ao céu
Levo-me afunilada por carências 
Mas temo as consequências 
De minhas ações
Continuo no caminho
Minha estrada lúdica
Gosto de fechar meus olhos 
E sentir a brisa com cheiro de mim
Quero desmembrar-me de doçura
E na minha loucura encontrar paz
Tão fluida e contente
Descontento-me
Sou um leva e traz 
Leva amor, traz vida
Eu sou assim, retalhos de mim
Alma boa, alma bonita.

                          Ísis Caldeira Prates

sábado, 17 de agosto de 2013

Do além

Arrepios da janela
Lá vem ele
Puramente ele
Passarinha na minha porta
E me faz delirar assim
Conto as horas, minutos, segundos
Para tê-lo aqui
Mas minha janela está fechada
Por portas de vidro
Nós nos vemos
Mas ele não pode me escutar
Entristeço em minha gaiola
Ele, pássaro livre, e eu aqui
Só posso apreciar quando ele anda
E na minha cama ter sonhos delicados
Mesmo que não tão perto
Ele afasta os gaviões de mim.

                      Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Ensaios de plenitude

Sinto-me como uma borboleta
Vivo borboleteando por entre as flores
E cores enfim
Bato minhas asas
Por entre minha arte psicodélica
Por entre minha imaginação
Que brilha em comunhão com as estrelas
Em liberdade sinto lampejos de aurora
Envolvidos por histórias mirins
Deixo-me envolver em luz
E desvelo-me no fim
Bato minhas asas translucidas e infinitas
Mesmo na terra, ainda posso tocar o céu.

                    Ísis Caldeira Prates

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Em tudo

Estou vivendo para sentir
Há tempos que me procuro
Em outros lugares
Em outros mares
Mas de todos, foram poucos
De todos, foram únicos
Todos os meus amores 
Fizeram-me renascer
Por alguns morri
Por outros chorei
Sorri e brinquei
Mas nunca perdi
Minha confiança
No amor despido de medos.

           Ísis Caldeira Prates

Meu gosto (você)

Agora que está aqui
Seja honesto
Seja firme comigo
Porque estou sendo com você
Peço que me procure
Que me cure, talvez...
Gosto de jogos
Gosto de olhares
Gosto de sorrisos
Gosto de atitudes
De homem que busca
Que surpreende
Que escuta o coração
Gosto de gente sincera
Mas nem por isso muito séria
Vida boa é dançar
Dançar com um par amigo
Doce e bonito
Pra eu me enamorar
Gosto de ter abrigo, colo e juízo
Que é pra eu amar
Leve-me nas alturas
Deixe-me tocar o céu
E eu retribuirei com fineza
Com a esperteza de nunca te magoar
Não gosto de perfeição
Gosto mesmo é de rebuliço
Gosto de fogo e música
Gosto mesmo é de cantar
Então deseje que eu cante pra você.

                   Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Ps: Ísis

Embalada por minhas lembranças
Vejo-me titubear por entre minha nostalgia
Abarcada de infinitas vestes
Usei vestes pálidas, sombrias, iluminadas
Volto-me cambaleante aos meus anseios
Entristecidos
Trágico
Caminho louca pela relva
Úmida e fria
Um emaranhado de pudor
Então censuro-me em meus pensamentos
Enlameados, sujos...
Olho para minha sombra pueril
Já quase se apaga
Entristeço-me por não mais tocá-la
Enraiveço-me por exitar
Flexiono meus joelhos tão alvos e macios
Abaixo minha cabeça
Fecho meus olhos e canto
Tento pacificar minha mente tresloucada
Mas apareço em solidão
Solidão de alma púrpura
Queria abrir meus braços como Jesus
Mas não posso abraçar o mundo
Ainda me falta piedade
Então olho para o céu e peço por misericórdia
Adormeço sobre a relva
Mas não tenho sonhos
Estou me buscando
Dentro de mim mesma.

                              Ísis Caldeira Prates