sábado, 30 de julho de 2016

A arte obscura que habita em mim

Existências, porque sinto que existir é viver várias vezes de uma só vez. E nessas vivências tenho provado as belezas, mas também as anomalias, que não chamarei de feiuras, pois fazem parte de mim. Criar e recriar-se, tentar de novo, seguir respirando, sonhando e desejando. Sinto que as obscuridades íntimas que habitam em mim, são anomalias raras e criadas na solidão. É lá dentro que eu me rasgo, me destruo, me machuco e volto à sorrir, há dias de tremenda melancolia, dias de loucura debilitada, há dias de pura fixação. Acredito nessa minha esquizofrenia bonita como a de Van Gogh, bonita à olhos vestidos, porque só os olhos nus enxergam os sofrimentos escondidos. Às vezes sinto vergonha pelas minhas deformidades internas, não pelos outros, mas por mim mesma. São tantas desmedidas, tantos descontroles, tantas inseguranças e medos. Quem nessa vida nunca se sentiu fraco ou nunca se arrependeu? Quem nunca se perdeu no estranho e cruel paradoxo que é ser alguma coisa, estar em alguma coisa, co-existir, co-habitar universos e sensações. A gente morre de amor e continua vivendo, se empoeira nas estantes, se desfaz. Um lamurioso cisne negro, etilismos em desventura, vícios e fixações. Tenho tentado ficar sóbria destas, mas é um longo rio até o mar azul. Que me perdoem os que eu magoei, os que eu fiz sofrer, são tudo marcas, desabafos. A dor que a gente carrega no peito só diz respeito à nós mesmos, mas é ela que nos molda e nos afunda ou nos eleva. Tenho andado sobre minhas cores.

Ísis Caldeira Prates


terça-feira, 19 de julho de 2016

Chegamos até aqui

Luzes psicodélicas surgem em teu rosto
Quando eu te toco
Quando eu te sinto
Os cheiros infinitos
Modelados
Alados
Gosto de ti
Gosto mais do que doce
Gosto mais do que céu
És tão bonito que já dizia Frida
Eu te céu! Em todo o teu encanto
Nossas danças mágicas
Singular de dois
Amor!
Dias de nuvens rosas
Flores em botões serenos
Asas sem amarras
Nós nascemos para voar
Nesse timbre rouco
De quem acorda feliz
Sem mal nem goteiras
Só chuveiro quente
Banhos de chuva
Lençóis utópicos
De um futuro aprendiz
Da vida temos feito tanto
Feito gente grande
Eu e você
Coração em paz
Mãos entrelaçadas
Emoções de luz.

Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 12 de julho de 2016

A verdade do nosso amor

Quem era você que deitou a cabeça em meu ombro naquele dia? Quem era você que me beijou maliciosamente naquele outro dia? E quem é você hoje para mim? Fases, altos e baixos, paraísos, infernos, qual é a vergonha em assumir isso? Nós dois por vezes nos demos asas, por outras cortamos as asas, e assim caminhamos degrau por degrau, suspiro por suspiro, amor por amor. Nem tudo foram flores meu bem, nós bem sabemos disso, mas as flores foram mágicas, elas são mágicas e loucas. Eu conheci o pior e o melhor de você com a mais alta intensidade, você me leu inteira desde o primeiro "eu te amo". O mais incrível foi ver você não sabendo mais ler a si mesmo depois do seu primeiro "eu te amo". Com você eu conheci o mundo de uma forma particular, um mundo paralelo talvez, mas propriamente nosso. Porque tem cores no teu quarto, nosso quarto, um lar. Abrir os olhos e olhar nos seus, tocar sua boca e delinear seus traços, as delícias dos teus risos impulsionando os meus. Hoje e somente hoje, eu te entendo realmente, eu te aceito e te admiro. Por tudo o que vivemos e acreditamos, há mais dias desse amor eterno. Eterno sim, quem dirá que não? Te amo nas mais belas delicadezas e sensibilidades, te amo nas tuas loucuras que me curam da melancolia. Te amo nas eternidades lúdicas que moram em nossos corações, amor de gente verdadeira que ama as profundezas para merecer os jardins. Tantos perdões e liberdades, tantas inocências e fogaréus, tem corpo e tem alma, tem ardências e consentimentos. Tem amizade e fé. Tem todas as bênçãos divinas e pra todo mal que ronda tem cura. Essa nossa idade pouca nunca quis nos limitar. Eu já não tenho medo nem aflições, tenho alegria e paz com meu amor. Você se transformou para ser o melhor que pode para mim, eu me transformei pra ser a melhor para você. E nessas mudanças, nos fizemos mais humanos, mais flexíveis e seguros. A verdade é que tem coisas na vida que não acabam, nem são destruídas. Você é uma das minhas fontes intermináveis, uma das minhas meditações. Acredito que me sinta tão ansiosamente quanto te sinto. Quando me envolve em teus braços tenho a sensação de consolo e afeto verídicos. A verdade é que nesse tempo que te co-habito e que me co-habitas, o universo se torna cada vez mais pequeno, cada vez mais limitado para a força do que sinto. O mais belo de tudo é a certeza que tenho de que tudo o que sinto é recíproco. A verdade do nosso amor é a força que ruge de nós e nos chama em qualquer lugar ou circunstância, que nos atrai à todo instante nas mais belas sintonias. Eu te amo.

Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 21 de junho de 2016

Somente entre nós dois

As bocas, os abraços e as loucuras
Nada seria como nós dois
Um amor paciente
Desafiador e intenso
Tão intenso quanto o tempo
Um tempo destinado à nós dois
Dois destinos em conjunto
Um amor com uma força tremenda
Sempre voltamos pro caminho do paraíso
Das latências nascem renovações
Entendimentos profundos
A melhor parte um do outro
Pureza de olhares e trocas
Sinceridade até nas dores
Quando eu encosto em você 
Eu sinto sua alma se ligar na minha
Estamos além das falsidades alheias
Dos descontroles mundanos
Acima do bem e do mal
Um amor sem julgamentos 
Que perdoa e é perdoado
Me faz querer ser melhor 
Me conforta e me protege 
No fundo, nossa base é ter fé um no outro
E ver o outro como único
Nosso amor é um emaranhado só de nós dois
É um globo energético onde só nós dois trocamos fluidos
E o mais bonito é que desse nosso amor
Ninguém nunca vai saber de tudo
Obrigada por existir.

Ísis Caldeira Prates 

quinta-feira, 26 de maio de 2016

O que queres de mim?

Agora não tem mais pecados
Não tem mais euforia
Não tem mais paixão
Não tem mais calor
Nem certo e nem errado
Eu preciso entender
Mas Deus do céu! É terrível!
Dá uma sensação de abandono
De revolta
De solidão
Eu e ela de novo, minha velha amiga
Tem uma dor no meu peito pior do que infarto
Eu sempre fui intensa e agora tenho sensação de morte
Será que eu não sei amar?
O mar está convulsionando por dentro
E só o que ele faz agora é olhar para o céu
O mar se faz humilde e se volta para o céu
Sua única companhia agora
E diz: " O que queres de mim?"
Mas o céu continua em silêncio
Sereno e imenso
O marinheiro só volta
Quando o mar voltar a se amar

Ísis Caldeira Prates 

segunda-feira, 16 de maio de 2016

LEMONADE

Eles vão te amar?
Por quê?
Pelo que você faz ou por quem você é?
Vão te chamar de louca?
Vão saber lidar com suas explosões?
Miss bomba atômica
Eles não te conhecem
No espelhos você está levantando o dedo do meio
Que se foda
Parte, parte de tudo isso
Vai encontrar o teu lugar
Eles não precisam te aceitar
Você aprendeu a ser o que é
Então abra o que quiser
Você é sua e de ninguém mais
Absolutamente sombria
Olha ela
A bruxa que escapou da fogueira
Ela ressurgiu
Acabou o doce
Todas em formação
Nós estamos emponderadas
Levante!
E vai correr na frente de quem te colocava sempre atrás.

Ísis Caldeira Prates - Valeu Bey.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

A dança dos doloridos

Essa música de fundo
Que toca quando estamos juntos
São as palavras da vida
Nos contando do nosso encontro
A vida é cheia de coisas banais
Mas as coisas raras é que nos fazem querer viver
Nosso encontro foi raro
Nos mudou desde o primeiro toque
Como uma força cósmica transcendental
Explosivos, transgressores da lei, mutantes...
Dois seres feitos de poeira cósmica
Que se atraíram por uma força universal
Chamada amor
Um amor cheio de degraus
Árduo, atemporal, de metamorfoses...
Nascido da selvageria 
Alimentado com paciência e afeto
Esse afeto nos afetou 
Caiu na circulação sistêmica
Atravessou todos os nossos muros e armadilhas
E chegou ao espírito
Eu bati na sua porta e você bateu na minha
Não era engano
Na sala, conversamos 
Mas foi no quarto que nos conhecemos
No lugar das bagunças, dos esconderijos e das solidões
Foi ali que você me tirou para dançar
E nós dançamos nos altos e baixos
Músicas felizes e tristes
Mas nunca soltamos as mãos
Dois viajantes perdidos que encontraram o endereço certo
Eu poeta e você um ávido leitor
Naquele dia você me disse:
"Escreve para nós, eu tenho um título."

         Ísis Caldeira Prates


domingo, 27 de março de 2016

Meu tempo

Eu preciso do meu tempo. Eu preciso das minhas "coisas", dos meus "seres" e dos meus "nadas". Eu não acredito em tempo perdido, até porque tempo é algo natural e na natureza nada se perde, tudo se transforma. Então, sim, eu preciso do meu tempo e das minhas reflexões e das minhas meditações ou mesmo das minhas procrastinações. Eu preciso respirar, sem um ar mecânico, sentir! Eu preciso sentir e passar por todas as fases do sentir, um mergulho profundo no buraco azul, eu preciso ouvir o som que existe em mim, preciso ouvir minha própria vibração. Eu preciso desse tempo para me conhecer, para não surtar, para me amar. Conhecer os meus pecados, as minhas tristezas, os meus medos, minhas alegrias e meus perdões. Eu preciso do meu tempo para aprender o perdão, que é o seu maior ensinamento, acordar e me perdoar antes de levantar da cama e enfrentar o mundo. Porque eu não sou esse ser bonito que aparece nas fotos, se olhar direito vai ver muitas cicatrizes feias. Lembro-me de um espírito amigo quando o conheci, a primeira coisa que me disse foi: "você é muito sofrida..." - aquilo me marcou, porque confirmou em mim todas as dores que eu carrego, foi como se ele tivesse dito: "tudo que você passou foi realmente dolorido, você é muito forte por ter suportado." Então eu me perdoo e perdoo os meus agressores, isso me faz mais tolerante, mais livre. O tempo me ensinou que não sou mulher, nem homem, sou apenas humana, por isso posso me libertar dos meus preconceitos. Me perdoem quando o agressor for eu, é falta de tempo. Por favor, me entendam, e me deem o meu tempo, não me privem dele, não me oprimam quando eu precisar dele. Eu preciso viver a minha existência e o meu existir é baseado no encontro e todo encontro precisa de TEMPO.

Ísis Caldeira Prates 

quarta-feira, 16 de março de 2016

Chupa essa...

Eu sou a mulher de mim mesma
Dona das minhas loucuras
Que me curam da mesmice
Eu sou uma baita de uma mulher
E não há ninguém que mudará isso
Se você acha que mulherão está na roupa
Na maquiagem ou no cabelo
Coitados e coitadas...
Uma mulher se encontra no toque de si mesma
Nos abraços que ela se dá
No companheirismo que ela se permite
Nos olhos que não enxergam nada melhor do que ela
No sorriso de confiança nela mesma
Uma mulher se encontra no desprendimento do que
não a acrescenta nada
Uma mulher se encontra na lealdade interna
No valor que ela se dá
No caráter e na irmandade com as outras mulheres
Uma mulher se encontra fora da traição 
Ela é mais do que autêntica, mais do que justa
Ela faz o que quer, mas também pensa no próximo
Uma mulher se encontra quando aprende a se colocar no 
lugar do outro
Uma mulher se encontra depois de vários tropeços
Depois de várias quedas e dores
Depois de vários tapas de luva da vida
E mesmo que seja no fundo, quando você se deparar com essa mulher
Você sempre vai reconhecê-la
Pode sentir amor ou até inveja
Mas de nada adianta, porque ela não vai se importar com o que é mau
Tem muita menina que visualmente parece uma mulher
Mas você nunca vai ver uma mulher que se parece uma menina.

Ísis Caldeira Prates

segunda-feira, 14 de março de 2016

Muito mais do que um tijolo no muro

Qual é o preço de ser eu mesma?
Vejo olhos que me julgam
Olhos que me amam
Olhos que não sabem se me amam ou julgam
São essas ilhas fugazes ao meu redor
Que me despertam e me ensinam
A navegar nesse mar revolto
Às vezes meu barco afunda
Fura, é engolido...
Mas eu resisto
Se tem uma coisa que eu aprendi
Foi a ser resistente
Teimosa, topetuda, audaciosa
Meu barquinho é pequeno
Mas eu o faço grande
O valor não está no barco
Está na Capitú... Capitã.

Ísis Caldeira Prates

sábado, 5 de março de 2016

Onde estão os perfumes?

Quando é que eu vou ficar boa?
Me fale a cura para essas dores
Esses reflexos de abandono
Eu mal consigo escrever
Eu mal consigo explicar
Não tem papel
Não tem resistência
Eu estou longe de mim mesma
Mas onde estou?
Se não aqui dentro?
É quando eu saio para passear
que eu entendo
Que eu vejo os caquinhos atrás de mim
É como estar em meio as flores
E não sentir o perfume
Que queres de mim ácida poetisa?
Que queres de mim dolorida?
Vá se encontrar longe de mim
Que já não aguento esses teus parafusos soltos
Já não aguento essa sua perseguição
Eu já não aguento os teus melindres
Os teus desmantelos
Nem essa tua desvalorização

Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

No divã de mim mesma

"E essa pintura desconstruída?" Ele me perguntava quando eu o olhava, frente a frente, face a face, olhos nos olhos. Difícil, não?! Olhar nos olhos, se expor ao ridículo, esperar o julgamento. Desconstrução, meu monstro mais assustador, uma vida sonhando uma vida que, na verdade não é a verdade. Por que desses vazios corrosivos que a gente tem? "Vai uma dose de solidão aí meu amigo?" Eu dizia pro meu grilo, ele ria comigo, chorava comigo, só que nunca dormia. Eu insistia com ele que eu tinha nascido pra solidão, ele me corrigia e dizia que eu tinha nascido para o amor, por isso seria uma eterna solitária. Qual era a lógica nisso? Idealização, essa era a lógica. Eu idealizava as pessoas que eu amava, mas elas não eram aquilo, então eu voltava pra solidão, pois elas deixavam de existir. Eu sempre acreditei no amor, desde criança tinha certeza de que o amor era tudo, mas eu não sabia que eu ia ser chamada de louca por isso. Quando se quer ser pura demais, o mundo te joga lama, eles não querem um brilho maior que o deles, então eles te culpam e se vitimizam. Eu sempre me pego pensando se existe alguém nesse mundo que vai me enxergar tão fluidamente, que vai dizer "Oh Deus! Ela é brilhante!" Mas talvez eu seja muito controladora por querer que alguém pense e enxergue o mundo como eu. Acho que meu erro está exatamente em me achar infalível, me achar boa demais quando sou apenas mais uma humana. Não consigo aceitar esse posto de uma simples "humana", mas meu grilo sempre me disse: "Você não é deste mundo". Sempre quis que as pessoas compreendessem minha alma, que soubessem lidar com ela, sempre quis que elas me perdoassem como eu as perdoo e que me dessem outras chances como eu sempre as dou. Porém eu acho que estou começando a entender que só devo esperar coisas de mim mesma. Preciso permitir dentro de mim que as pessoas sejam como elas são, só assim me permitirei ser como sou. Porque uma borboleta com a asa empenada ainda é uma borboleta. Quer saber, grilo? Eu vou tirar essa pintura, meu amigo. E vou gostar mais de mim assim, do jeitinho que eu sou. Com todas os brilhos e apagões, com todos os meus pesos e levezas. Essa dureza de amor tem que amolecer a gente.

Ísis Caldeira Prates



segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Anunciação

Eis aqui o meu oceano
Minhas profundezas 
Meus descontroles
Meus medos
Você conhece todos
"Você"
Tem um tom infinito
Eu fecho os olhos
E te abraço nua
Nus
Nós dois
Carne de espírito
"Amor"
De todas as horas
Um rolar de lençóis febris
Uma travessia
Na ponte do paraíso
E eu me perdi 
Nos perdemos
Mas o que havíamos de perder?
Nesse sentimento delinquente
Transgressor das leis
Só há dois loucos
Dois abismos
Que criaram suas pontes
Para se verem nos dias de batalha
"Existir"
Verbo feito pelo amor
Eu te amo
Me ama
Existimos então
Na pureza de nossas escolhas
Escolher você
Me escolher
Eu me sinto viva
Te abraçarei
E habitarei na casa do meu amor
Por longos dias.

Ísis Caldeira Prates