domingo, 26 de abril de 2015

Os doentes são imortais

Eu não tenho essa beleza que me dizes
Eu tenho estranheza
Descuido
Delírio
Eu não me calo
Eu não me reprimo
Eu sou fracasso
Amor não exprimo
Lá na montanha tocam os sinos
Adeus de alvorada
Peito sem auxílio
Solitária peregrina
Sem fé nem caminho
Vivo tropeçando na erraticidade
Mas eu tenho um destino
Destino esse tardio
Autoritário
Carrasco
Quem diria que meus olhos
De lágrimas se encheriam
Não conheço teus sentimentos
Eu não morro de vazio
Os machucados vão criando casca grossa
Casca de menino sozinho
As borboletas continuam sua metamorfose
E eu parada à beira do caminho
Que dia será amanhã?
Dia de comer pedras
Pedras jogadas a sangue frio
Tenho lutado contra monstros
Acabo por me tornar um
Minha culpa cobre meu instinto
Sou nascida da selvageria
Conheço bem essa selva de perigos
Mas não tenho para onde ir
No final desço rio abaixo
Encontro-me com a imortalidade
Tudo que é belo tem que morrer.

         Ísis Caldeira Prates

Doloridos

Intensos quereres
Que me despertaram do meu nevoeiro
Dores que se comunicam
Que se olham na escuridão
Despidos e pungentes
Corações devastadores
Dois infernos celestiais
Nós nos encontramos em nossas carências
Dois anômalos do desamor
Que mordem, que beijam
Que gemem melancolias íntimas
Somos dois devassos
Decadentes e distintos
Vamos contra a multidão
Que sejamos errados
Travessos
Desequilibrados
Mas que sejamos nós mesmos
Com nossa própria volúpia
Nosso próprio desapego
Você é livre
Eu também
Ilusão só se for nas verdades absolutas
Somos dois amantes diante da redenção.
Ísis Caldeira Prates