Ísis Caldeira Prates
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
No divã de mim mesma
"E essa pintura desconstruída?" Ele me perguntava quando eu o olhava, frente a frente, face a face, olhos nos olhos. Difícil, não?! Olhar nos olhos, se expor ao ridículo, esperar o julgamento. Desconstrução, meu monstro mais assustador, uma vida sonhando uma vida que, na verdade não é a verdade. Por que desses vazios corrosivos que a gente tem? "Vai uma dose de solidão aí meu amigo?" Eu dizia pro meu grilo, ele ria comigo, chorava comigo, só que nunca dormia. Eu insistia com ele que eu tinha nascido pra solidão, ele me corrigia e dizia que eu tinha nascido para o amor, por isso seria uma eterna solitária. Qual era a lógica nisso? Idealização, essa era a lógica. Eu idealizava as pessoas que eu amava, mas elas não eram aquilo, então eu voltava pra solidão, pois elas deixavam de existir. Eu sempre acreditei no amor, desde criança tinha certeza de que o amor era tudo, mas eu não sabia que eu ia ser chamada de louca por isso. Quando se quer ser pura demais, o mundo te joga lama, eles não querem um brilho maior que o deles, então eles te culpam e se vitimizam. Eu sempre me pego pensando se existe alguém nesse mundo que vai me enxergar tão fluidamente, que vai dizer "Oh Deus! Ela é brilhante!" Mas talvez eu seja muito controladora por querer que alguém pense e enxergue o mundo como eu. Acho que meu erro está exatamente em me achar infalível, me achar boa demais quando sou apenas mais uma humana. Não consigo aceitar esse posto de uma simples "humana", mas meu grilo sempre me disse: "Você não é deste mundo". Sempre quis que as pessoas compreendessem minha alma, que soubessem lidar com ela, sempre quis que elas me perdoassem como eu as perdoo e que me dessem outras chances como eu sempre as dou. Porém eu acho que estou começando a entender que só devo esperar coisas de mim mesma. Preciso permitir dentro de mim que as pessoas sejam como elas são, só assim me permitirei ser como sou. Porque uma borboleta com a asa empenada ainda é uma borboleta. Quer saber, grilo? Eu vou tirar essa pintura, meu amigo. E vou gostar mais de mim assim, do jeitinho que eu sou. Com todas os brilhos e apagões, com todos os meus pesos e levezas. Essa dureza de amor tem que amolecer a gente.
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