sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Carta para o meu amor


Você tem dedos mansos com dobras de laço e digitais melódicas. Você sabe dos meus deslizes e dos meus transtornos, lê as galáxias que existem em meus olhos e sabe quase todas as senhas de minhas sensibilidades. Você caminha silencioso pelo meu território assombrado, sabe que eu costumo dormir nele e quando me acordam eu viro pó. Você cheira a céu de passarinho, me dá a liberdade que eu sempre duvidei, você sabe que eu duvido de tudo, que eu sou teimosa, que eu sou doida e doída. Você transpira comigo quando eu viajo ao espaço e encosto no sol, você conhece todas as minhas queimações, elas surgem todos os dias e já não temos água, somos incêndio que não se deve apagar, mas que às vezes se apaga. Você tem olhos cansados, tem uma alma nua e sem vergonha, somos dois sem vergonha porque você aceitou minhas cicatrizes e minhas anomalias. Com você eu tiro a roupa e me sinto amada, tirar a roupa não é para qualquer um, só tiro se existir verdade, essa grande ilusão. Não sei sua forma física, nunca reparei, sua essência já me enche, já me transforma e eu me doo. Eu sinto nosso começo e nosso fim, somos infinito, mas infinito não tem fim nem começo. Então não existimos, mas como pode isso? Nada se perde, nada se apaga, a ideia é viva. Estamos portanto pairando pelo universo, somos utopia, imaginação, subconsciente. Fomos feitos para a despedida, mas quando nos encontrarmos salvaremos a humanidade, somos dois pontos extremos de energia cósmica. Pequenos e cruciais, você finge que existe e eu também, no fundo a utopia é o que pode vir a ser. Seremos, ou talvez nos perderemos, quem decide são os corpos que nos guardam, que nos fazem viver.

Ísis Caldeira Prates