sábado, 16 de agosto de 2014

DÍ - Delírios de Ísis

Arrasta-me...
Afaga-me...
Degusta-me...
Incendeia-me...
Toca-me...
Peca em meu corpo são
Em minha carne encharcada
De mel pro teu ser
Suga meu universo e minhas estrelas
Me faça ver o clarão do céu
Deixa-me ser sol, já que sempre fui lua
Que tua boca não cale o som que sai da minha
Som de espasmos, som de arritmia
Encha-me em minhas profundezas desnudas
E afunda, afunda, afunda...
Você tem que me consumir até ter delírios de Ísis
Eu sou o ecstasy eternizado em sua memória
Eu sou o seu agora
Nossos segundos são eternos
Não me perca
Aqueça
Adormeça em meu espetáculo curador. 


Ísis Caldeira Prates 



domingo, 10 de agosto de 2014

A mulher mais sozinha da cidade

Eu a via passar perdida pela cidade
Com o olhar vagando dentro de si mesma
Ela era tão linda, mas de um vazio tão grande
Pensava em chamá-la pelo nome
Mas era muito pouco
Quem era ela?
Eu via uma tigresa indomável
Que acabou sendo domada pela solidão
Tinha um brilho de sol caloroso querendo sair dela
Um desabrochar tardio e prazeroso
Eu disse que ela era linda?
Estonteante, meus olhos seguiam fascinados por aquela melancólica distinta
Ela era vista por fetiches, eu a via por loucura
Ela por vezes parecia uma miragem
Eu bebia o vinho mais doce que caía na minha taça ao passar por ela
Eu não queria encontrá-la para salvar
Nunca fiz curso de salva-vidas
Queria cair naquela doida, doída, secreta, mulher!
Aliás, "mulher", característica muito vaga para ela
Um ser paralelo, sem denominações
E pensando em tudo isso, eu percebi
Ela não existia, nem eu.

                Ísis Caldeira Prates


domingo, 3 de agosto de 2014

Abra os olhos

As metáforas psicológicas são formas genuínas humanas
Em momentos solitários me vejo presa e flutuante aos fluxos marginais
Existe uma conexão virótica como um efeito dominó 
Há um peso em minhas costas, o peso do mundo
Estamos conectados e nossos corações batem no mesmo ritmo
Me sinto com os olhos embaçados por uma nuvem de cocaína
Estou presa em meus vícios
Parece uma doença degenerativa com picos de lucidez
Sinto que meu corpo pode mais do que aparenta
Tem dias que só quero ficar nua e ser tocada
Com tons de melancolia, tons de inundação
Só quero abandonar essa necessidade de pertencimento
Pertencer a nada nem ninguém
Ficar apenas no mudo, explorando meus ecos mentais
Há uma fera em meu peito que ruge para sair
Mas o silêncio é mais louvável
Censura
Desumanização 
Despoetização
A mente é como crianças correndo pelos campos
Elas parecem desorientadas
Mas tem um ar alegre, desmaterializado
Elas seguem um destino
Estão correndo em direções determinadas
Estranhamente elas sabem exatamente quem são
Sabes quem és?

Ísis Caldeira Prates