terça-feira, 28 de outubro de 2014

Confissões de uma velha andarilha do tempo

Tempo, amado tempo, odiado tempo
A que me levaste?
Às profundezas de minhas alucinações
De minha alma convulsiva
De meus caminhos escuros
Tempo, o que me diz das loucuras?
E das gavetas sem fundo que misturavam 
minhas lembranças?
E das sessões de agonia
Da dor que sempre me moveu
Por que és um caminho sem volta?
E por que dessa saudade que meus dias passados me fazem?
Essa falta, esse vazio
Essa inconsequência
Por que não aceitou minhas inconsequências?
Ah tempo, por que que vieste ao meu encontro?
Por que de tantos espelhos ao meu redor?
Queres me mostrar minhas faces, meus pesos e minhas dívidas 
Denuncia-me para o universo
Mas por que me tirou tantas coisas?
Por que levou minhas crias?
Eu pari amor tantas vezes
Levaste meu amor
Levaste tudo de mim
Por que meu amor?
Me deu tão pouco tempo
E tanta melancolia
Sou criadora triste
Sou criadora solitária
Levaste meus ânimos
Mas quem sou eu para afrontá-lo?
Conheces minha alma 
Sou bicho pagão
Bicho dos esconderijos
Nem meus amores conseguiram me transparecer.


       Ísis Caldeira Prates

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Nas profundezas do meu oceano de prazer

Hoje eu sou uma sereia silenciosa
Nua pela casa vazia
As paredes sussurram
As paredes gemem
E os lençóis escorrem para o chão
Devassidão interna
Meu corpo ferve sozinho
A penumbra consome minha opressão
Virtuosa sereia
Que nada na cama molhada
Perversa fragilizada
Estou entregando tudo
Para a noite vazia
Evapotranspiração em meu quarto
Está chovendo em mim
Solidão do diabo
Estou sangrando por baixo
A gente sangra por baixo 
Por falta de amor.

Ísis Caldeira Prates