sábado, 25 de maio de 2013

Te amo

E nossos olhos tão ilegais
Nossos corpos tão acesos 
Nossas bocas tão famintas
Quero você hoje
A qualquer hora, em qualquer momento
Quero você louco
Quero você solto
Quero você livre de tudo que já passou
Quero você arrepiado
Quero você deslumbrado de mim
Quero você cheio
Para que eu possa beber-te
Quero-me inteira para você
E escrita com teus pensamentos
Quero-me pintada com tuas cores
E nesse mar de amores
Eu me entrego
Me entrego ao que me faz bem
E hoje o meu bem é você

                                  Ísis Caldeira Prates

Malandro agora sou eu

Pode tirar os sapatos para entrar
Aqui não é mais casa da mãe Joana
Agora tem lei
Agora tem gerência
Estou bem acordada pra homem sorrateiro
Que entra sem bater
Me assusta na cozinha
Me pega nos braços e finge que me engana
Depois abre a geladeira, bebe uma cerveja
E sai pela porta sem se despedir

Agora querido, a coisa ficou séria
Dou moral mais não
O sistema agora é bruto!
Entra se eu quiser
Quem te usa sou eu
E a cerveja na geladeira
é para eu tomar depois
De te pedir licença da minha casa
Porque estou afim de descansar.

                                   Ísis Caldeira Prates

Nos vemos em breve...

Ei garoto! Vem aqui!...
Vem reflorir meus caminhos
E intimidar-me outra vez
Vem colorir meu arco-íris
estampado no céu.

Ah garoto perdido
Encontro-te de novo
nesse emaranhado de fel
Mas que nós tornamos doce
Doce música, doce de Chico
Para embalar nossa chegada

Agora só existem chegadas
Nada mais de partidas
Só se for uma partida de relance
O único jogo de baralho que sei jogar.

                              Ísis Caldeira Prates



Hoje eu tô pro crime!

Pode mandar me chamar
Que hoje eu tô pro samba!
Batom vermelho na boca
Vestido rodado
Cabelos ao vento

Desculpem-me as damas
Mas hoje eu estou só o poder
Estou autêntica
Estou viva!

Pode me chamar
Que eu boto fé para dançar
Dançar a noite toda
E quem sabe sair acompanhada
para um barzinho qualquer
Com um moreno gato...
Beijos, até!

                                Ísis Caldeira Prates

Ser desejada em preto e branco

Parece que de uns tempos pra cá
minha vida deu uma estagnada
Tudo tão normal
Tudo tão banal

Estou cheia de clichês
Tudo tão chato...
Levemente melancólico

Acho que desaprendi a ser intensa
Monotonia ambulante
Acho que tenho que aprender a ser
mulher outra vez...

                               Ísis Caldeira Prates


quinta-feira, 23 de maio de 2013

Trépida em meio aos redemoinhos

Abro meus olhos, ainda está escuro
Eles estão pesados na noite mórbida
Sinto-me sem energia, cansada
Está frio, o vento me envolve
entre seus redemoinhos.
Parece levar-me para outra dimensão
Parada, começo a pensar
Não consigo entender
todas as minhas alucinações noturnas.
Minha mente não está sã
Paralelamente delineada em rigidez
Sensação aparentemente fugaz
Mas não é noite é dia, não é dia é noite
O tempo todo, todo o tempo...

                       Ísis Caldeira Prates



Agonia líquida

Estou em alto mar, sinto o balanço
da água.
Estou boiando, flutuando
Mas parece que estou enlameada
A água está pegajosa
Estou no mar, mar dos problemas
Onde só os tubarões nadam
Eles espreitam-me, mas não atacam
Só fazem medo, torturam
Um cilício doloroso
E mesmo que eu afunde
Ainda respirarei debaixo d'água
Não tem saída
Não se foge do mar dos problemas.

                           Ísis Caldeira Prates

Erros na construção (casa mal projetada)

Lá em casa a torneira pinga lentamente
o dia todo.
O chuveiro não esquenta direito
Quando chove, vaza água nas janelas
A porta está empenada
Mas tem dinheiro, tem conforto

Então tem algo errado nesta casa
Falta alguma coisa...

Ela fala da casa dos sentimentos
A casa de dentro dela
Tem outros moradores nesta casa
Tem algo errado também com os moradores.

                                    Ísis Caldeira Prates

sábado, 18 de maio de 2013

Estado de alma

Quando anoitece e seus corpos dormem
Suas almas saem
Vão desmembrar a noite
Desnivelados pela ânsia do encontro
Então eles se procuram
Não há medo ou orgulho que os impeça
Eles estão líquidos
O céu se torna uma distração
Mas nada os impede de ver um ao outro
Enfim se encontram
Se reencontram
E faíscas explodem no ar
O universo os envolve e fica em silêncio
Só os dois ali
Provando deliciosamente cada instante
Deixam-se envolver
Porque sabem que quando acordarem
Estarão novamente bobos, medrosos e egoístas
É isso que o corpo faz com as pessoas
É isso que o mundo faz
Adormece nelas a essência do amor.

                Ísis Caldeira Prates

Sentimento em cima do muro

Eles dois tão frios um com o outro
Ou pelo menos tentando mostrar frieza
Mas se olhar um pouco
Poderá ver o nervosismo nos olhos de cada um
Eles estão tão perto um do outro
E ao mesmo tempo tão distantes
Orgulho tolo, medo tolo
Se olhar nos olhos dela poderá ver a inquietude
Se olhar nos olhos dele poderá ver o desejo
Não me pergunte porque não estão juntos
Nem mesmo eles sabem
Talvez nunca fiquem juntos
Mas uma certeza tenho...
Ele está marcado nela
Ela está marcada nele.

                     Ísis Caldeira Prates

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Ele olhou por mim

Ó Pai que está céu!
Tu que olhas por mim
Não me abandonou quando precisei
Ouviu todos os meus lamentos
Até os mais fúteis
Atendeu-me naquilo que viu que eu mais precisava
Ah meu Pai querido!
Agradeço-te muito!
Estou feliz! Mesmo com a angústia da espera que passei
Agora deito-me aliviada
Mas sei dos meus deveres
Sei o que estás a esperar de mim.

                       Ísis Caldeira Prates

Vestido de pano molhado de lágrimas com cheiro de despedida

O galo cantou de manhã
Dona Maria sentou-se em sua cama
Era uma manhã diferente das outras
Ela olhou para o lado de sua cama
O seu Zé não estava ali
Quanto que ela brigou com aquele marido...
Lembrou-se dele saindo cedo com o chapéu de massa
Como podia saber que ele não mais voltaria?

Sentiu saudades de muita coisa
De fazer o café pra ele
De fazer o almoço, a janta
Até do cheiro de cachaça que ele já trazia consigo 

Mas chega de tantas lembranças
Chega de choramingo
Porque ela ainda tinha cinco filhos pequenos para criar.

                   Ísis Caldeira Prates

Germinaram

Sinto um perfume no ar
Devem ser os lírios do jardim
Ou as rosas variadas no quintal

Tão lúdica a natureza...

Observo-as em silêncio
Meu jardim está florido
Demorei muito para fazer brotar essas sementes
Mas olhe agora
Meu jardim está florido!

                   Ísis Caldeira Prates

Teu lar (de volta)

Agora és livre Encantado
Bata suas asas!
Voe alto e descubra o céu
Vá e dance nas nuvens de algodão
Sinta o doce da liberdade digna
E sinta o vento tocar suas asas
como um pai que leva o filho de volta para casa.

                   Ísis Caldeira Prates

Suplica pela fé

Eu estou tentando me manter um pouco equilibrada
Mas não está dando certo
Deus! Ajude-me!
Há tantas coisas acontecendo agora
Nem sinal de notícias boas no horizonte
A luz no fim do túnel está enfraquecida
O que devo esperar de uma luz parca?
Já chove há um mês
O sol se esconde por entre as nuvens
E já estou pálida
Minha alma já está resfriada
Mas ontem me disseram que acreditar
era diferente de ter fé
Acreditar é simplesmente pensar que
vai dar certo
Ter fé é entregar ao Pai
o que já não podes resolver
E esperar...
A chuva pode virar tempestade
Podes sentir que nunca mais verá o sol
Mas sabes que é justo
E que o Senhor tem planos para sua vida
E nunca, nunca mesmo te abandonará

                       Ísis Caldeira Prates

sábado, 11 de maio de 2013

O algo a mais

Olhos castanhos que tanto me olham
Mas nada dizem
Achava-me uma verdadeira leitora de olhares
Até que o meu encontrou-se com o seu
Só o que posso ver é uma barreira de defesa
Tem algo em mim que encabula você
Mas ainda não é o bastante para fazer-te me ver
Em minha mais profunda essência.

                           Ísis Caldeira Prates

Aflita

Ó noite taciturna!
Não cale-se diante de mim
Logo tu que és minha conselheira
Anseio tua inspiração
Diz-me o que devo fazer para curar-me
Para ter sossego em minha mente
E em meu coração
O que hei de fazer
Se nem tu amiga minha, podes aconselhar-me?

                                   Ísis Caldeira Prates

Um tempo, por favor...

Estou partindo
Partindo para um lugar entre as colinas
Quero ser uma nômade pelo bosque
E andar por entre as flores
Não quero mais fazer planos
Não quero lembranças
Quero apenas lembrar-me do meu agora
Aqui entre as colinas.

                               Ísis Caldeira Prates

Escondida no seu baú de medos

Não sou boba
Estás fugindo de mim
Mas por quê?
Vou dizer-te o motivo
Quando nunca se é amado profundamente
Não se conhece o amor
E quando descobres que amam-te
Foges
Porque não sabes lidar com algo
que não conheces
Não sabes lidar com o precisar de alguém
Não sabes lidar com a felicidade batendo a porta.

                                                 Ísis Caldeira Prates

Declaração de uma jovem que conheceu o amor

"O problema do mundo
É que quando amamos uma pessoa
Na forma mais pura da palavra amor
Isso é tido como obsessão."

                                 Ísis Caldeira Prates

Preciso-te

Tocou-me outra vez
Eu deixei...
Novamente
Olha aí o que fazes comigo
Olha aí o que eu faço contigo
Parece que gosto...
Parece que gosto de sofrer em demasia
Mas é que quando está perto
Já não estou carregada de razão
Parece que só você pode
Só você pode escolher
entre me deixar ir ou
não sofrer.

                           Ísis Caldeira Prates

Ver-te outra vez

Meu querido, eu não consigo negar você
Não posso negar você de mim
Eu achava que já não me importava
Mas depois de ontem à noite...
Eu te amo...
Eu estou inundada por você
Eu havia construído um dique
Mas ontem à noite você transbordou
E inundou-me outra vez
Outra vez você
Mil vezes você
Eu agora estou dolorida
Encharcada
Não dormi
Passei a noite com ânsia de sono
Mas o barulho das suas ondas
era mais alto que todo o sono que havia em mim.

                                Ísis Caldeira Prates

quinta-feira, 9 de maio de 2013

A fortiori! A fortiori!

Queridos livros, 
Desejo-os uma vida longa
Afortunada de leitores
Que possam inundar de cultura
as mentes hipotônicas

Amor aos livros! Por favor!

Reivindicarei na rua com cartazes

Amor aos livros! Por favor!

                   Ísis Caldeira Prates

 

Justaponha-se menino

Enxerga ela...!
Olha aí, do seu lado
Ela tá toda toda
Toda ígneo
E só para você
Quer dizer... Nem tanto...
Tem muitos pássaros soltos
Inclusive ela...

                   Ísis Caldeira Prates

Ensaios de saudade

Ih... Parece que nossas conversas estão esfriando
Você que era só graça, agora parece taciturno
Você está distante, na lua
Ah, queria eu ser sua lua
Para que me visitasse quando estivesse aflito
Queria eu estar lá com você todas as noites
E nas madrugadas frias
Queria eu te dar colo, consolo...
Um lugar recôndito
Só nós dois
Eu lua
Você olhar.

             Ísis Caldeira Prates

Suscita-me

Ah moreno! Hoje você está belicoso...
Pronto para a balbúrdia!
Para...
Não vê que sou sua da cabeça aos pés?
E que seu olhar ardiloso arrasta-me para ti?
Não pense em dar-me um amor parco
Porque sou perene de nascença
Não tem mais saída
Prendeu-me
E se um dia quiseres largar-me
Avise com antecedência
Não sou paga para aturar enrolação.

                   Ísis Caldeira Prates




Minha melhor fase

Amando eu sigo, no meu desassossego
Amando eu vivo, entre o meio
Meio da multidão de supérfluos
Meio da mesmice cega
E da conectividade dispersa
Amando eu sigo, pois um dia morrerei
E meus passos sujos e desnudos
Poderão ser abafados pelo meu eu pândego
Pelo meu eu frugal
Pelas minhas palavras meigas
Pela minha pequena áurea angelical
E nesse amor pelo mundo, pelas pessoas e pela vida
E me desfaço em mil pedaços
Só para ter que me construir de novo amanhã.

                               Ísis Caldeira Prates

Sem inspiração

Tic tac tic tac
Ah relógio... Para um pouco
com esse tic tac infernal!
Mas é o relógio não
É o tempo não
É minha mãe não
É meu pai não
O que é então?
Eu...
Sei lá, é que hoje eu tô coisada.

                                            Ísis Caldeira Prates

quarta-feira, 8 de maio de 2013

V

Em uma sociedade onde os ladrões usam terno e gravata
E os pobres Jeans Valjeans ainda sofrem dos mesmos medos
Indigna-me a hipocrisia das propagandas
O preço da marca
O preço que colocaram na alma
Indigno-me com a insensibilidade e o egoísmo
Com os delírios de grandeza e estupidez
Jovens que crescem moldados ao imediatismo
Ao prazer estereotipado
E à lamúria da incompatibilidade
Sociedade macabra!
Burgueses alienados!
Que até hoje querem provar sua nobreza
Justiça suja de sangue dos inocentes
Segura uma balança tendenciosa
Até quando Cristo? Até quando?
Mas volto-me de novo a mim
Volto do meu inconsciente lúcido
Ó céus! Eu também sou um deles!

                                         Ísis Caldeira Prates

Fé, rosário e Iemanjá

E onde todos nós nos encontramos?
Pode ser no batuque do terreiro
Na homilia do padre
Na psicofonia do médium
Na relatividade de Einstein
No politeísmo do índio
Caros amigos, o que quero que entendam
É que nesses ensaios multifacetados de religiosidade
A fé torna-se questão de sensibilidade
O "crer" passa a "ser"
E mesmo que eu defenda o cientificismo
Há em mim a tendência ao esoterismo
Que não posso mascarar
Porque se em nada eu crer
Não mais serei agônico
Mas sim, um poço de nada.

                                              Ísis Caldeira Prates

Lumin(essência)

Ah, aqueles olhinhos tortos iluminados
Não só os olhos, mas toda ela
Há um perfume diferente em tudo
o que ela faz.
Há uma leveza exacerbada em sua
forma de ver o mundo
Ela é tão fluida e destemida...
É o raio de sol que toca a terra
É a sinfonia das ondas do mar
Ela é tempestade, depois arco-íris
Ela é assim, ah, sei lá...

                                Ísis Caldeira Prates

Intocável

Mas você tá parecendo criança teimosa
Criança curiosa que quer mexer em tudo

Mexe aí não menino!

Aí dói, aí é sinistro, aí é só meu
Só meu...
Mexe aí não menino, mexe aí não...

                         Ísis Caldeira Prates

terça-feira, 7 de maio de 2013

Na rua, na lua


O menino sujo ali na calçada
Ninguém o vê
Pessoas indiferentes passando de lá pra cá
De cá pra lá
Não sabem elas que dentro dele há um mundo
Um mundo de sonhos
Que só uma criança pode ter
Nem que seja sonho de ter um carrinho de controle remoto
É uma imaginação fluida e dançante
Um pequeno utopista
Que mesmo sem entender, tem uma chama de vida
Fome na barriga, mas também fome de viver
E nas andanças dele pelo bairro que se transformou mundo
Ele cultivava um sonho
Um sonho de ir à lua, talvez lá o ser valesse mais que o ter
E os seres fossem menos hipócritas
Por isso, o abandono se mantinha calado dentro dele
Pois ora ele estava na rua, ora ele estava na lua.

                                       Ísis Caldeira Prates






Despido


Estou em abstinência do seu sorriso largo
Do seu cheiro que me embriaga
E embala minhas noites de respiração acelerada
Quero-te despido ao meu lado
Nem que seja só para olhar-te
Eternamente, enquanto eu te amar
Quero que dure tempo suficiente
Para que nenhum de nós caia no esquecimento
Um do outro
Mas não quero marcar-te de desespero ou incredulidade
Desejo marcar-te de saudade boa, resolvida...
Assim como desejo-te aqui agora, na minha cama vazia.

                                         Ísis Caldeira Prates

Livre, leve e solta


Meu bem, se peço-te um tempo é porque preciso de clareza
Preciso encontrar-me nas minhas resoluções
Preciso afastar de mim os fantasmas do passado
E adormecer meus sentimentos obscuros
Se te peço um tempo, não é porque estou incerta
dos meus sentimentos
Pelo contrário, é porque quero estar firme
Despida de egoísmo
Para que eu não seja em sua vida mais uma coisa em vão.

                                     Ísis Caldeira Prates

Ela pôs-se como flor

Como estás linda hoje flor do campo
Tão matuta, tão serena, tão inocente...
Mas o que me diz desse seu cheiro de mato?
Dessas pétalas delicadas ainda que resistentes
Porque a noite dorme ao relento
Mas tem a paz e a suavidade
que nenhuma flor urbana de floricultura sonhou ter.

                            Ísis Caldeira Prates

Cama, mesa e banho

Mas que labuta é essa mulher de Deus?
Já vê-se suas pernas inchadas do trabalho
Teu cabelo desgrenhado e mal tratado
E que unhas são essas?
Jesus, Maria e José!
O que se há de fazer com você?
Mudar de planos?
Largar o emprego?
Abandonar os filhos?
Trocar de marido?
É... Acho que não...
Mas o melhor de tudo é sair no final de semana
para comprar roupa.
Mas espera, que roupa?
De cama, mesa e banho...

                                                 Ísis Caldeira Prates

Quem sou eu?

Penso que eu sou o que vejo
Se por acaso eu ver a luz das estrelas
É isso que sou
Penso que sou corpo e alma
Porque na minha alma, perfeição
No meu corpo, prisão
Sei que talvez não me enxerguem de verdade
Mas é a minha verdade que sou
Transito entre o bem e o mal
Estou nessa linha tênue 
Ora grito, ora amor, ora silêncio
Estou abastada de mim
E todos esses retalhos me completam
Afinal, não sei se sei quem sou
Posso ser muito ou posso ser pouco
O que me importa é quem eu quero ser
O que me importa é do que eu tenho fome
Se minha fome for boa, estou no caminho certo.

                                          Ísis Caldeira Prates

Moreno

Olha só moreno! Nós dois nos perdendo de nossos eixos
Andando fora da calçada, mas que perigo gostoso...
Assim como o arrepio do seu abraço
Acalenta meu coração que bate taquicardiamente se não te vê
Quero olho no olho, corpo colado, calor e calor
E quando amanhecer quero que chegue de novo a noite
para eu poder sonhar de novo assim com você.

                                         Ísis Caldeira Prates

O que ela quer?

Ela sente um cansaço de alma
Um bocejar infinito, um estranho vazio
Ela pede colo, amor
Mas que amor é esse que ela quer?
Quando neste mundo ainda não se pode ler mentes.

                                 Ísis Caldeira Prates

Entreter-me

Beija meus lábios ao som de Camelo
Me olha profundo, seguro e cheio
Mas não me dê ousadia
Porque sou fria e friamente
posso estraçalhar seu coração
Desculpe o atraso, o esquecimento
Desculpe o tédio
É que para mim tem que ser fogo
Mas fogo que dança para me entreter.

                         Ísis Caldeira Prates

Sei que não

Ainda que meus passos procurem os seus
Ainda que eu caminhe em sua direção
Ainda que eu corra o quanto eu puder
Nós sabemos amor, que não nos acharemos
ainda, pois teu pensamento não é de todo meu
Ainda que o meu seja teu
De nada adianta esperar, porque estamos
soltos demais, enlameados demais para amar.

                                         Ísis Caldeira Prates

Em trânsito

E quando seus olhos tintirilam faíscas de lucidez,
suas vidas se entrelaçam ferozmente e
um som é ouvido no fundo, é uma cantiga de ninar.
Dorme criança, que o céu já vem
Pelo teu corpo correntes de energia brincam,
ainda assim podes sentir sua alma e o som volta
Expande sua consciência, é um fluxo perfeito
Mas é distante, não se vive, não se toca
Calai-vos para ouvir, esperai-vos
Estamos em trânsito, presos
Sintonizai-vos e faíscas aparecerão novamente
E o ciclo da existência te reavivará
Não sentirás vida, mas redenção.

                          Ísis Caldeira Prates

A morte

Inspirado em Álvares de Azevedo
Óh! Gélidas mãos que me tocam tão frias
Óh! Olhos vagos que já não me veem
Chama clara e potente que se apagou
em meus braços meigos
Tira-me também, desnivelada de dor
Dar-te-ei meus beijos e meu amor eternos
Guia-me estrela que agora brilha lá no céu
Meus sonhos são teus amor meu
Entre meus lençóis vazios, o calor me petrifica
Estou tresloucada, sozinha, em silêncio
Não tocarei mais teus lábios, não acariciarei
tuas mãos macias.
Óh! Dor que me devasta! Como poderei viver sem ele?
O mais belo e vivo, o mais sincero e digno amor
Mas não tema nada aí do céu, pois meu amor é seu
como a abelha é do mel.

                                                      Ísis Caldeira Prates


Palavras minhas.

Sinto-me ferida, não porque não posso
Mas sim, pela minha falta de capacidade para entreter-me
Quantas lacunas ainda precisarei preencher?
E quantos medos ainda terei que combater?
Ó mundo meu! Porque tanto pranto e ranger de dentes?
Ainda que meu ópio seja minha impregnada solidão
Tenho um feixe de luz que me anima nas tardes quentes de verão
Por isso, não sou de tudo gelo, mas demasiada paixão
Ainda transcende em mim o amor da criação e meu âmago aflito ainda tende a devoção.

                                                                           Ísis Caldeira Prates

Eu e nada mais.


Ainda que meus pés não tocassem o chão
E meu eu fosse ilusão
Ainda que nada me trouxesse paz
E tudo que eu quisesse virasse “mas”
Ainda estaria aqui como as estrelas que brilham no céu
Ainda me perderia de novo em meus devaneios tolos
Porque querido, estou faminta por mim
E meu mundo particular está carente de “sim”.

                                                                           Ísis Caldeira Prates

Ainda você

Você me tem tão certo
Você me tem tão louco
Você me tem tão em excesso
Você me tem tão frouxo
Você me revela
Você me tira do ar
Você que encanta e canta “amor pra mim não dá”.
Vento lá fora, amor quero te provar.
Ainda que sincero eu não espero.
Quero estar.

                                         Ísis Caldeira Prates