domingo, 26 de abril de 2015

Os doentes são imortais

Eu não tenho essa beleza que me dizes
Eu tenho estranheza
Descuido
Delírio
Eu não me calo
Eu não me reprimo
Eu sou fracasso
Amor não exprimo
Lá na montanha tocam os sinos
Adeus de alvorada
Peito sem auxílio
Solitária peregrina
Sem fé nem caminho
Vivo tropeçando na erraticidade
Mas eu tenho um destino
Destino esse tardio
Autoritário
Carrasco
Quem diria que meus olhos
De lágrimas se encheriam
Não conheço teus sentimentos
Eu não morro de vazio
Os machucados vão criando casca grossa
Casca de menino sozinho
As borboletas continuam sua metamorfose
E eu parada à beira do caminho
Que dia será amanhã?
Dia de comer pedras
Pedras jogadas a sangue frio
Tenho lutado contra monstros
Acabo por me tornar um
Minha culpa cobre meu instinto
Sou nascida da selvageria
Conheço bem essa selva de perigos
Mas não tenho para onde ir
No final desço rio abaixo
Encontro-me com a imortalidade
Tudo que é belo tem que morrer.

         Ísis Caldeira Prates

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