domingo, 3 de janeiro de 2021

Não é sobre amor

 O amor se foi... Levando com ele a maior parte do que havia de bom em mim. O amor se foi brutalmente como o soco de um pugilista. Agora eu não sei se era ele que dava sentido a minha vida ou se na verdade o amor é um luxo que os humanos não tem. Eu tenho sido forte por muito tempo, mas que porra eles querem de nós nessa merda de jogo? Estou cada dia mais louca, mais sombria, e quem não está? Se ao menos minha tristeza fosse minha redenção... Quem serão os desalmados que lerão o que escrevo? Eu escrevo para não enlouquecer, deve haver alguma glória nisso. Eu ainda sou tão jovem, mas parece que tenho mil anos. É como se eu estivesse vagando pela Terra só para sentir ela girar. Como Jesus no deserto, acho que acabei enlouquecendo nas areias do meu. Agora sou uma jovem velha empoeirada, radiante por fora, mas sombria por dentro. No fundo, é o amor ou talvez a personificação dele, quem mais conhece nossos demônios. Sinto falta de algo que conheça meus demônios e de conhecer os demônios de outrem. Sempre fui boa com palavras, mas escrever é o meu triunfo. Essa guerra de quem chega primeiro me tira a paz. Chegar primeiro onde? É um grande labirinto, estamos todos perdidos, não conhecemos ninguém que saiu e voltou pra contar a história. Mesmo assim, desde o dia em que nascemos começamos a morrer. Sim, eu já tive algumas alegrias genuínas, mas eu só escrevo bem quando estou triste. 

Ísis Caldeira Prates


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