sábado, 19 de dezembro de 2020

Desencontro

 Me conheci naquele fatídico dia de domingo, deitada na minha cama imersa em meus pensamentos. Quase em um estado meditativo, um pouco feroz como sempre fui e ainda sou. Ouvindo meu vazio lotado de traumas invisíveis, apenas aquelas sensações, como um cego no tiroteio. Estar constantemente cheia de mim, no meu limbo de eternidade, a minha ligação com o divino. Ainda assim, perdida nesse paraíso que é ser humana, imagem e semelhança, mas de quê? Eu já estive cansada, hoje sigo admirando a paisagem, o fardo não pode ser mais importante do que essa vista ensolarada. Aqui dentro nunca anoitece, por isso nunca durmo, estou sempre acordada em mim mesma. Não há como fugir desse paraíso cheio de desencontros numa mesma avenida. Esta via de mão dupla não me deixa esbarrar em outrem, sigo lado a lado com essas versões de mim nesse fatídico dia de domingo, onde não me encontro no inferno, nem no céu, mas nesse eterno tribunal, prestando contas dos meus desesperos causados justamente por quem joga o dados... Seria eu ou Deus? 

Ísis Caldeira Prates



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