domingo, 12 de maio de 2019

A escolha

Hoje eu acordei junto com o amanhecer. Saí de dentro da minha velha casa, o vento soprou meu cabelo e eu vi os pássaros no céu. Eles voavam tão livres em volta da minha casa velha que eu quase senti minhas algemas. Enchi meus pulmões de ar e me perguntei: "para onde estou indo?", como se eu pudesse encontrar um carro e me distanciar milhas daqui. Talvez a pergunta certa seria "como essa casa ficou assim?". Da mesma forma a qual não sabemos como os vírus entraram na existência biológica, eu também não sei quando eu cheguei aqui. Talvez isso seja parte da minha alma antiga, talvez isso seja eu. Os anos vão passando e eu continuo habitando todos esses cômodos cheios de memórias, parece que aqui eu guardo as dores que a eternidade faz. Aqui é o meu local de penitência e de punição. Dizem que nós nascemos para sermos felizes, mas viver é sinônimo de dor. A eternidade nos promete salvação, mas sinto que que isso me tira a escolha. É como chorar na chuva, você não sabe o quanto de você tem na água caindo, então o que você sente fica mascarado e é por isso que nos sentimos melhor em seguida. Eu preciso sentar do lado de fora e chorar no mais profundo silêncio para que eu possa entender de onde vem tudo isso. Esse drama de fazer parte do todo e mesmo assim ser individual, me parece piada. E é por isso que existe essa angústia que não alivia e que co-existe dentro de nós. O que nos move profundamente? De onde vem a esperança? O que é a falta e o vazio? É por isso que caímos de joelhos quando o nada começa a fazer barulho? É preciso fazer várias escolhas e depois pensar em todas as possibilidades que ficaram para trás. Eu gostaria de poder ir em cada mundo paralelo e em cada dimensão. Eu queria mergulhar na menor partícula atômica e mesmo assim eu sinto que não obteria as respostas. Pode ser que a plenitude venha do contentamento, por isso passamos uma vida inteira fingindo que entendemos tudo. Eu preciso fazer uma escolha e eu não posso hesitar. Apesar de termos todo o tempo do mundo, nós não temos tempo nenhum. Eu estou sempre perdendo e dificilmente me transformando. Não quero que a vida saiba dos meu ressentimentos e é por isso que essa casa existe. Nosso Deus é o tempo e nós temos vergonha de desperdiçá-lo até mesmo quando é necessário. Eu tenho vergonha de não reverenciar o tempo, como se o mesmo soubesse assim como a minha mãe sabe quando eu estou mentindo.

Ísis Caldeira Prates   


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