sábado, 30 de julho de 2016

A arte obscura que habita em mim

Existências, porque sinto que existir é viver várias vezes de uma só vez. E nessas vivências tenho provado as belezas, mas também as anomalias, que não chamarei de feiuras, pois fazem parte de mim. Criar e recriar-se, tentar de novo, seguir respirando, sonhando e desejando. Sinto que as obscuridades íntimas que habitam em mim, são anomalias raras e criadas na solidão. É lá dentro que eu me rasgo, me destruo, me machuco e volto à sorrir, há dias de tremenda melancolia, dias de loucura debilitada, há dias de pura fixação. Acredito nessa minha esquizofrenia bonita como a de Van Gogh, bonita à olhos vestidos, porque só os olhos nus enxergam os sofrimentos escondidos. Às vezes sinto vergonha pelas minhas deformidades internas, não pelos outros, mas por mim mesma. São tantas desmedidas, tantos descontroles, tantas inseguranças e medos. Quem nessa vida nunca se sentiu fraco ou nunca se arrependeu? Quem nunca se perdeu no estranho e cruel paradoxo que é ser alguma coisa, estar em alguma coisa, co-existir, co-habitar universos e sensações. A gente morre de amor e continua vivendo, se empoeira nas estantes, se desfaz. Um lamurioso cisne negro, etilismos em desventura, vícios e fixações. Tenho tentado ficar sóbria destas, mas é um longo rio até o mar azul. Que me perdoem os que eu magoei, os que eu fiz sofrer, são tudo marcas, desabafos. A dor que a gente carrega no peito só diz respeito à nós mesmos, mas é ela que nos molda e nos afunda ou nos eleva. Tenho andado sobre minhas cores.

Ísis Caldeira Prates


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