terça-feira, 27 de maio de 2014

Violentada

Eu tentei fechar meus olhos para sentir a brisa em volta de mim
Mas eu não pude fechá-los
Eu estava incrustada na realidade
Engaiolada nos ressentimentos mundanos
Eu tinha uma pequena percepção de mim mesma
Sentia-me como um trabalhador que trabalhava 14 horas por dia
E nada fazia contra o sistema perverso
Eu estava sendo espancada pelos egos ferozes
E as escoriações se difundiam pela minha pele
Eles não entendiam minha poesia
E eu ficava cada vez mais insana e medíocre
Tão quanto eles
A cada dia mais sem escrúpulos, sem coragem e devastada
Comecei a sugar as obscenidades desalmadas
Os socos deixavam hematomas expostos
Os agressores me violentavam
E eu me confortava neles
Estava doentia
Com distúrbios analíticos
Sedenta por me afogar ainda mais no meu inferno astral
Meus olhos já me escondiam
E eu quebrava os espelhos de minha casa
Sempre entendi a mentira que emanava das paredes
Mas não tinha força para fugir de mim
Despoetizei-me e me industrializei
O mundo tapava minha boca e me agredia por entre as pernas.


     Ísis Caldeira Prates


                           Pintura Hiperrealista de Amanda Joseph


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